São José da Pedra do Rio: uma conversa com Osmar Júnior

Trovador amapaense conversou sobre composição que homenageia santo padroeiro de Macapá. Foto: Floriano Lima
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Dia 19 de março é aniversário de São José, pai de Jesus, padroeiro de Macapá. Por aqui, parece que está desde sempre na Pedra do Rio, mas um dia não esteve e em outros tempos (em 1973) chegou a ser derrubado. O tempo passou e hoje ele até tem duas pedras: uma no rio e outra na terra.

Mas isso quem diz sou eu. Fosse o poeta Osmar Júnior, diria como em uma de suas canções que é uma na “beira-mar e outra na terra”. Macapaense que se preze, em dia de São José sempre se lembra dos versos do cantador: “Meu São José da beira-mar, protegei meu Macapá!”. Impossível não ler cantando.

Osmar Júnior: compositor amapaense abordou santo padroeiro em conhecida canção. Foto: reprodução

Música grude, quase um brega chiclete, do tipo que fica na cabeça. O Osmar contou como essa música foi feita através dos tempos.

Antes, a música não nasceu como uma ode à fé. Ou pelo menos não só isso.

O poetinha vasculhou as memórias e falou que na década de 1970, quando morava no Igarapé das Mulheres, sua principal diversão era a praia da frente da cidade. Ali jogava bola, passeava, caminhava em meio aos troncos e paus dos trapiches e docas da frente de Macapá, antes dos muros de arrimo serem construídos.

Por isso a música fala sobre arquitetura, sobre história, sobre mudança. A música que começou a fazer era sobre uma Macapá que ele fotografava com a retina dos olhos naqueles tempos de quase aurora da vida. Quando sentou para escrever, colocar notas de violão e levar a pena para o papel, Macapá já era outra.

“Pedra do rio
Quem cantava meu povo?
Pureza que o tempo exterminou
A fé que a água levou
Pedra do rio

Em água branda e lamentos
E o meu povo mudou
O tempo se passou (…)”.

Este trecho fala sobre isso, faz alusão à ação do tempo, ao acidente da embarcação que bateu na Pedra do Rio e do santo que foi levado pelas águas, mas, sobretudo, das mudanças que a cidade e nosso povo passou através dos anos.

Trovador amapaense conta sobre como composição surgiu. Foto: reprodução

Osmar Júnior contou que era como na música, uma grande festa ao raiar do dia, que tinha romaria e que era noite e dia. Memória de criança expressa em poesia. Coisa fina, de dar inveja aos franceses e italianos da renascença.

A música foi realmente gravada e lançada só em 1993, no primeiro disco solo de Osmar, o “Revoada”, obra que compõe parte da história do movimento musical Costa Norte.

Quase todos os anos, a Diocese da Igreja Católica de Macapá o chama para cantar nas procissões. Ele brinca que, uma vez, o saudoso Bispo Dom João Risatti o pediu para cantar a música umas 30 vezes!

“Acho que o santo deve gostar de mim”, brinca o poeta.

Ter uma obra abraçada pela fé o comove, causa alegria. Místico, ecumênico, o Osmar se sente muito filho de São José e destaca o papel do santo que viu a esposa grávida e acolheu um menino e dele cuidou, enfrentando a hipocrisia da época de outrora e também dos dias atuais.

Nova imagem de São José, agora no Parque do Forte. Foto: Marco Antônio P. Costa/SN

Esse exemplo de acolhimento, segundo Osmar, tem que ser muito copiado por nós hoje em dia.

Apesar de tudo e das dificuldades atuais, como diria o outro poetinha, o de Ipanema – Vinícius de Moraes -, o cantor já tem decidido em sua cabeça e contrato firmado e juramentado no cartório do céu o que irá fazer no próximo verão.

“Agora que tem uma nova imagem [no Parque do Forte], vou fazer um som lá quando passar essa situação de epidemia. Adoro música de rua e vou com meu violão fazer um show ali mesmo, na calçada. Se vocês quiserem, coloquem até um dinheirinho no meu chapéu”, contou o músico.

Em tempos de dificuldades em Macapá e em todo o mundo, Osmar pede fé e crava.

“Vamos achar a solução, uma cura, sempre achamos. Temos que confiar nas crenças, uns nos outros, na humanidade e na ciência”. Parece que é como ele mesmo sempre nos canta nos dias dezenove de março, na sua Pedra do Rio.

Nos dê a fé, nos dê a fé, e protegei nossa Macapá, Santo da beira do Rio Mar!

Seles Nafes
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