Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Os amapaenses vivem um martírio desde a fatídica terça-feira (3), quando começou a falta de energia elétrica. Todos sofrem, mas, crianças e idosos, certamente, são os mais prejudicados. A situação é ainda pior quando são crianças de famílias em situação de completa vulnerabilidade social, como ocorre nas áreas de pontes de Macapá.
Na “Ponte do Caroço”, no Bairro Cidade Nova, zona leste de Macapá, há uma família com duas mulheres adultas e 12 crianças em uma só casa. O mais velho tem apenas 12 anos, e a maioria são, portanto, de crianças pequenas.
O calor, os carapanãs e até o medo da polícia fazem parte da rotina dessas pessoas. A fome também faz parte da realidade desta família – um retrato fiel de uma parcela extensa do povo do Amapá.
Quando esta reportagem foi realizada, no final da tarde desta quarta-feira (18), a família dava graças à Deus por ter conseguido almoçar feijão. Só feijão. Não teve proteína, ne arroz ou farinha.
No momento das entrevistas, uma equipe solidária levava uma panela de mingau de milho para as pessoas daquela ponte. A grande panela acabou em questão de minutos, e o sorriso de uma criança se alimentando é de uma pureza sem igual.
Francilene Silva Almeida, tem 11 anos de idade e está no 4º ano do ensino fundamental. Dentre as filhas, é a mais velha, e ajuda a cuidar dos irmãos. O seu relato é fulminante.
“Tá sendo difícil. Dá muita carapanã, o neném chora, dá brotoeja. Muito calor aí dentro, não dá para abrir a porta, porque às vezes vem polícia atirando daí. Às vezes eles vêm atrás de bandido e vem atirando. Eu consigo dormir, às vezes. Quando vem a energia, a gente puxa água dali da frente da casa do vizinho. Às vezes ele dá, às vezes ele tá brabo e não dá. Eu queria que acabasse logo”, declarou a menina de 11 anos.
A mãe repete uma história muito conhecida na capital amapaense. Oriunda das ilhas do Pará, mais especificamente da cidade de Chaves, veio ao Estado em busca de melhores condições de vida.
Ela tem seis filhos, e, sua irmã, mais seis. Seu marido trabalha para o interior, e volta de tempos em tempos. Ela conta que, além de tudo, é difícil ter “uma casa sem homens”, só com duas mulheres e as crianças em casa. Ambas fazem serviço de diaristas sempre que possível.
“De noite a gente fica abanando as menores. Foram vários dias sem dormir. Parece que a gente fica “leso”. A gente tem só uma rede e a gente se embala, mas só dá pra um. Cada um fica com um pedacinho de papel se abanando. Quando ameaça chover é ainda pior, que dá mais carapanã ainda”, relatou Francinete Silva Almeida, de 29 anos.
O feijão que Francinete, a menina Francilene e seus irmãos e primos comeram no dia foram levados pelo artista popular Joca Monteiro, que desenvolve trabalhos de ajuda social na Baixada Pará e arredores.
Joca contou que a demanda por água, comida e lanche para as crianças aumentou muito mais na pandemia. E agora no apagão “explodiu” de vez. Ele se desdobra com seus parceiros para fazer o que pode.
Já Francinete e a irmã, fizeram um pedido: querem duas redes para ajudar a embalar suas crianças.
Quem quiser ajudar a menina e sua família – que precisam muito mais do que as duas redes que sua humildade lhe permitiu pedir – e, também, ajudar Joca no trabalho que desenvolve na periferia, pode entrar em contato: Francinete (96) 99912-6236/Joca Monteiro (96) 99164-1089.
Esta reportagem, a entrevista com a menina Francilene, as fotos, contaram com a autorização e supervisão das mães dos menores. Nesta quinta-feira (19) Francinete está de aniversário. Completa 30 anos de idade.