Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
E se Macapá tivesse um hidroanel que ligasse o Canal do Jandiá, Lagoa dos Índios e Igarapé da Fortaleza? Ou, e se todo cidadão – e o poder público – vissem e tivessem consciência do quão degradante é a “língua negra” que despejamos todos os dias no fabuloso Rio Amazonas? Essas questões ou ideias estão sendo levantadas em uma página na internet que tem chamado atenção pela abordagem de temas relevantes, porém um tanto quanto esquecidos no Amapá.
A página do Facebook “AP Urbe – Amapá Urbano”, criada pelo arquiteto e urbanista Harife Viégas, de 31 anos, levanta algumas questões urbanísticas, especialmente da região metropolitana de Macapá.
Vamos a algumas delas:
Segundo Harife, em 2013, durante um evento acadêmico realizado no curso de arquitetura da Universidade Federal do Amapá (Unifap), levantou-se a ideia de um canal navegável, um hidroanel, que ligasse o Canal do Jandiá, na zona leste de Macapá, à Lagoa dos Índios, na zona oeste e também com o Igarapé da Fortaleza, já no limite com Santana. A ideia é que o canal tivesse 23 Km de extensão e fosse usado para transporte de cargas, passageiros e também fosse utilizado para passeios turísticos. O próprio arquiteto, no entanto, explica não tratar-se de um projeto, mas sim de uma ideia de difícil execução. Mesmo assim, as pessoas parecem ter gostado do conceito.
Utilizando-se de imagens do Google Earth, uma postagem da página mostrou a imagem aérea do “encontro das águas” do Canal da Mendonça Júnior com o Rio Amazonas. Na verdade trata-se de uma “língua negra”, uma enorme mancha de esgoto sendo despejada no maior rio do planeta.
Mas Harife também ressalta preocupações – ou soluções -, mais cotidianas. Por exemplo, uma das postagens da página que teve mais compartilhamentos foi sobre a localização dos motéis em Macapá. Utilidade pública.
Ainda no quesito curiosidades, a página fez o ranking das dez maiores vias urbanas de Macapá. São elas:
RANKING DAS VIAS URBANAS MAIS LONGAS DE MACAPÁ
1ª Rua Hildemar Maia – 5,5 Km,
2ª Rua Leopoldo Machado – 5,2 Km
3ª Rua Professor Tostes – 5 Km
4ª Rua Jovino Dinoá – 4,67 Km,
5ª Avenida Carlos Corte Lins – 4,43 Km
6ª Avenida Padre Júlio – 4,42 Km
7ª Rua Santos Dumont – 4,23 Km
8ª Avenida Cora de Carvalho – 4,20 Km
9ª Claudomiro de Moraes – 3,90 Km
10ª Avenida 13 de Setembro – 3,58 Km.
O urbanismo também perpassa, necessariamente, pela análise social de ocupação do espaço urbano. Neste quesito, duas análises se sobressaem.
A primeira é sobre a densidade populacional de bairros de Macapá. O centro, por exemplo, tem uma área de 388 hectares onde moram, segundo o já defasado censo do IBGE de 2010, cerca de 17.798 pessoas. Na zona norte do Macapá, no conjunto habitacional Macapaba, em contraste, em uma área de 30 hectares moram 25 mil pessoas. Aliás, caso o Macapaba fosse um município, seria o sexto mais populoso do Amapá.
Noutra postagem o urbanista analisou a condição social das famílias pelos telhados das casas.
“Bairros de renda mais altas tendem a ter casas com telhas de barro, este tipo de telha é muito mais cara, exige armação de madeira reforçada e tende a ter mais manutenção. Do outro lado bairros de renda mais baixas tendem a ter mais casas com telhas de fibrocimento (brasilit), pois são mais baratas, acessíveis e de fácil manutenção”, diz a postagem acompanhada de imagens do Google Earth comprovando a tese.
Outras curiosidades, fatos e ideias circulam pela página, que Harife afirma ter feito com a ideia de popularizar temas sobre a cidade que são interessantes e que ficam “presos” apenas na academia. Ele está feliz com a recepção que tem tido nestes três anos, visto que se dedica às publicações apenas nas horas vagas.
Sobre os desafios urbanos no Amapá, disparou:
“Macapá tem os problemas latentes, que todo mundo vê, de falta de esgoto, saneamento básico, de pavimentação adequada, drenagem, calçamento, moradia e tem outros mais escondidos, mas que são importantes, como por exemplo, o abandono de certos temas, que também é uma política, existe uma política do não fazer. Alguns temas são renegados ao terceiro, quinto nível de importância pelo poder público e até pela sociedade”, concluiu Harife Viégas.