O Amapá era base logística de um grande esquema de tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro, que foi alvo de uma robusta operação da Polícia Federal na manhã desta quarta-feira (20).
A ação policial, batizada de Operação Vikare, envolve 300 agentes federais que cumprem 73 ordens judiciais, 24 de prisão e 49 de busca e apreensão, em nove estados brasileiros, incluindo o Amapá, de onde a investigação foi coordenada. Nenhum nome de investigado foi divulgado pelas autoridades.
Durante o cumprimento dos mandados, os materiais apreendidos dão ideia do poderio econômico do esquema: altas quantias em espécie de dólares, euros e real, joias, armas e drogas.
Segundo a Polícia Federal, os crimes investigados são de tráfico transnacional de drogas, associação para o tráfico, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Neste esquema, o Amapá servia, geograficamente, como base operacional da quadrilha para a importação e transporte de drogas por meio de aeronaves a serem distribuídas para diferentes pontos do país.
No estado amapaense foram cumpridos quatro mandados de busca e dois mandados de prisão preventiva, em empresas e duas residências localizadas em Macapá, também em um aeródromo particular, segundo a PF.
Além dos mandados na capital amapaense, foram alvos pessoas físicas e empresas com endereços nos estados do Pará (Belém e Ananindeua), Amazonas (Manaus e Itacoatiara), Piauí (Teresina), Ceará (Fortaleza), Mato Grosso do Sul (Campo Grande, Paranhos e Aral Moreira), São Paulo (capital e Sorocaba); Rio de Janeiro (capital) e Paraná (Foz do Iguaçu e Londrina).
A ação de hoje teve origem em maio de 2020, quando a PF no Amapá descobriu movimentações suspeitas de aeronaves e destroços de um avião de pequeno porte, que ficou atolado em uma região no município de Calçoene, a 370 km de Macapá.
A aeronave havia sido destruída por um incêndio proposital, causado para tentar esconder os crimes praticados. Mas os policiais ainda perceberam que o avião estava adaptado para transportar drogas, semelhante ao que é feito com outros apreendidos em ações policiais no Brasil.
Ao lado dos destroços, foi encontrada uma vala, possivelmente para armazenar os entorpecentes transportados naquela oportunidade.
Os investigadores levantaram informações de que uma outra aeronave pousou no mesmo local e resgatou os tripulantes e a carga.
Com o avanço da investigação, a PF descobriu que o proprietário do avião foi preso em julho do mesmo ano no Paraguai, enquanto pousava uma outra aeronave carregada com 425 kg de cocaína.
A aeronave de pequeno porte utilizada para resgate das pessoas e carga, que havia caído em Calçoene em março, havia sido vendida a um outro homem, que, em novembro de 2020, também foi preso em flagrante na cidade de Ipixuna (PA), próximo a Paragominas (PA), transportando 450 kg de skunk (maconha prensada), logo após deixar Macapá, saindo de um aeródromo da capital amapaense.
Aeródromo em Macapá
No Amapá, a PF encontrou indícios de que este aeródromo fornecia apoio logístico, como combustível para a aeronave fazer esses voos aos demais estados brasileiros, bem como a outros países fornecedores da droga, como Colômbia e Venezuela.
O local também foi utilizado como ponto de apoio para realização dos preparativos da aeronave de modo a deixá-la em condições para voar com autonomia para longas distâncias, como retirada de bancos, fornecimento de combustível em carotes, o que é proibido, e, assim, trazer a maior quantidade de drogas possível.
A quadrilha
Com o aprofundamento das investigações, a PF chegou a uma grande e articulada organização criminosa, com participação de brasileiros e estrangeiros, especializada em tráfico internacional de drogas, que utiliza uma rota que passava por países da América do Sul, principalmente Colômbia e Venezuela e tinha o estado do Amapá como uma de suas bases logísticas fundamental, de onde as drogas partiriam para outras regiões do Brasil.
Lavagem de dinheiro
Segundo a PF, empresas de fachada de outros Estados participavam do esquema para ocultar e mesmo dissimular o dinheiro da quadrilha.
A organização criminosa possuía, na estrutura, mecânicos de aeronaves, pilotos, operadores financeiros responsáveis por transacionar os valores obtidos pelas atividades ilícitas, além de terceiros que recebiam quantias em contas pessoais e empresas, cujo objetivo era dar aparência de licitude aos valores obtidos com a prática criminosa.
Uma das empresas foi constituída no ramo de cosméticos, sob a administração de uma mulher de 42 anos, de origem colombiana, residente em Sorocaba (SP), o que facilitava o acesso a produtos químicos usados no refino de drogas.
Ela já havia sido presa em 2012, por tráfico de drogas e era a principal responsável pelo fornecimento de drogas da organização criminosa.
A investigação revelou, também, que uma empresa do ramo de venda de peixes no Rio de Janeiro (RJ) escondia as drogas no meio da carga de pescado.
Bens bloqueados
Além dos mandados de prisão e busca e apreensão, a Justiça Federal no Amapá impôs medidas de sequestro de bens, direitos e valores de 68 pessoas físicas e jurídicas: 95 veículos, entre carros, caminhões e motos, boa parte de luxo, com proibição da transferência de propriedade; 3 aeronaves com indisponibilidade e restrição de uso; 19 embarcações com indisponibilidade e restrição de uso; Indisponibilidade de diversos imóveis em nome de 41 pessoas físicas e jurídicas; bloqueio de ativos financeiros de pessoas físicas e jurídicas.
Todo este patrimônio é estimado em R$ 5,8 milhões. Os valores são individuais, ou seja, aplicados a cada envolvido.
O nome da operação, Vikare – personagem da mitologia grega – faz referência a duas tentativas frustradas de voos que sairiam do Amapá, uma aeronave caiu (causas desconhecidas) e outra foi interceptada.