Por ANDRÉ SILVA
Muitas mulheres – boa parte mães – já mostraram para a sociedade que o lugar delas é onde elas querem estar. Não são poucos os exemplos de mães que foram abandonadas pelo companheiro e que diante das dificuldades precisaram encarar atividades que por muitos anos foram dominadas pelos homens, como dirigir caminhão, por exemplo.
Diana Vinagre, de 37 anos, nasceu no município de Breves no Pará e chegou em Macapá na companhia dos pais ainda adolescente. Ela dirige um caminhão de coleta de lixo pelas ruas e avenidas de bairros de Macapá.
A ‘Motora’, como é chamada pelos companheiros de trabalho, já foi mototaxista e taxista por 17 anos, mas revelou que o desejo mesmo sempre foi ser motorista de caminhão.
“Toda vez que eu ouvia o barulho do freio de mão, corria pra ver e ficava perto dos caminhões (risos). E também, o meu pai que já é falecido, achava lindo – o que era raro na época – ver uma mulher dirigindo ônibus. Quando ele via dizia: é o meu sonho ver um filho meu dirigindo caminhão. Fazer a vontade do meu pai, me incentivou a dirigir”, confessou a motorista.
Diana contou que em um determinado momento da vida decidiu realizar o sonho do pai. O primeiro passo foi mudar a categoria da carteira. Já com o documento em mãos, começou uma verdadeira luta contra o preconceito durante a procura por trabalho.
“Como aqui em Macapá ainda é bem restrito para mulheres, você chega a bater em várias portas e sempre é discriminada. E eu principalmente pela minha estatura (risos). Sou pequena e geralmente as pessoas olham e parece que ficam se questionando: será que ela vai conseguir dirigir? Eles não acreditam”, desabafou Diana.
Para adquirir experiência na nova atividade, a motorista passou a fazer diárias no setor de entregas de lojas de materiais de construção, e dirigia ônibus de passeio e fretes que iam para várias partes do estado, tudo isso acompanhada de motoristas experientes.
No caminhão de coleta, ela trabalha há pouco mais de um mês. Disse que recebeu uma chance para mostrar seu desempenho e agarrou a oportunidade com unhas e dentes. Passou a respeitar ainda mais a profissão do gari vendo os companheiros se dedicarem dia após dia, realizando um serviço que poucos teriam coragem para encarar.
“Eu estou acompanhando todos os dias e vendo como é a vida dos garis. Além de ter preparo físico tem que ter disposição. As vezes as pessoas vêm eles com o sorriso no rosto correndo, mas não sabem o que eles passam. As crianças adoram eles, só os cachorros que não”, contou em risos a motorista.
Diana é mãe separada, tem quatro filhos: dois de 19 e 20 anos, fruto do primeiro relacionamento, e outros dois de 4 e 9 anos.
Ela passa 8h do dia dirigindo o caminhão de coleta de lixo domiciliar para uma empresa privada que presta o serviço para a Prefeitura de Macapá. Em casa, ela tem a ajuda da mãe para cuidar dos filhos. Sobre ser mãe ela diz:
“É maravilhoso. Como eu tive meus dois primeiros filhos ainda muito nova, não soube direito o que era maternidade, mas nunca os abandonei. Sempre criei eles só, sem a ajuda dos pais. Foi uma experiência assim muito difícil porque eu tive que sair para trabalhar e deixar eles com outras pessoas. Agora com esses dois que eu vim ter mais maturidade e ser mãe”.
Satisfação
Diana garante que já se acostumou com o mau cheiro exalado pelo lixo e que tem prazer em trabalhar na profissão. A satisfação dela é comprovada pelos colegas de trabalho. Wendel Luan, de 28 anos, também é novato na empresa. Ele e mais três colegas fazem parte da equipe dela.
“Para a ‘classe’ das mulheres a Diana é um exemplo e tanto. Mulher guerreira, batalhadora que não se deixa abater por preconceito de homem, que sempre tem. Podem não falar, mas no olhar a gente percebe. Ela trata agente como filho. Quando fazemos alguma coisa errada ela diz: meus filhos se comportem (risos)”, reconheceu o colega.
O outro colega confirma.
“É uma guerreira. O sonho dela era pilotar um caminhão e conseguiu isso. Cada dia que vamos trabalhando juntos ela nos ensina e vamos aprendendo um com o outro”, afirmou o parceiro de trabalho, Gerson Mendonça de 39 anos.
Nesse Dia das Mães, a motorista deseja que as mulheres sejam mais respeitadas pelos seus companheiros e reconhecidas como parte fundamental no processo de construção de uma sociedade mais justa, para todos.