Por ANDRÉ SILVA
A história do município de Santana, localizado a 17 km de Macapá, está ganhando novos contornos, principalmente sobre a ocupação inglesa nessas terras tucujus, que duraram quase 30 anos.
Essa parte desconhecida da memória do segundo município mais populoso do Amapá estará no livro “Santana: Das navegações ao povoado Português”, que será lançado em dezembro.
A obra é escrita pelo geógrafo Marlos Carvalho, de 47 anos, que também é secretário adjunto de planejamento da Prefeitura de Santana. Ele disse que a busca por fatos históricos para serem transformados em datas comemorativas foi o que lhe impulsionou.
No livro, descreve por meio de provas obtidas a partir de documentos históricos oficiais da Inglaterra, que antes dos portugueses chegarem a Macapá, Santana foi habitada por exploradores britânicos e holandeses. Isso não é novidade para estudiosos do assunto, mas a dúvida de Marlos era “quanto tempo eles ficaram por aqui e quando o Forte Cumaú foi construído?”.
A edificação construída pelos ingleses foi derrubada no ano de 1632, antes da fundação de Macapá que aconteceu em 1758. Ele ficava localizado na confluência das águas do Igarapé da Fortaleza – por isso o bairro leva esse nome – com o Rio Amazonas. Parte da estrutura desse Forte ainda existe.
“Você não constrói um forte pra proteger o vento. Provavelmente devia ter alguma coisa. Os registros portugueses e brasileiros não davam informações, eu fui atrás de amigos na Inglaterra que me deram as informações. Esse foi o fio da meada”, explicou o professor.
Segundo ele, já havia uma informação consolidada sobre a criação do Amapá, que parte da formação da cidade de Macapá. Mas pouca coisa sobre Santana.
“Você começa a perceber que a história é bem mais antiga. Ela vai lá pra 1612, já tem acontecimentos históricos com a presença dessas populações aqui: inglesas, irlandesas e transitando por aqui os holandeses que ocuparam mais à frente, já em Gurupá, no Pará. Tinham, também, algumas pessoas irlandesas a serviço da Inglaterra”, afirma o escritor.
Marlos explicou porque esses exploradores estavam interessados nessa rota.
“A Espanha era a toda poderosa no mundo da época – na União das coroas. Ela teve o domínio sobre Portugal e da Holanda nessa época. Das cinco maiores potências do mundo, ela tinha controle sobre ela e mais duas e tentou invadir a Inglaterra. Então havia uma relação de litígio entre a união das coroas liderada pela Espanha, Inglaterra e Holanda. Então todas as áreas de ocupação da união ibérica passaram a ser alvo dessa disputa global”, explicou.
As pesquisas do geógrafo apontaram que o interesse dos ingleses por essa área era o acesso às minas de prata do vice reino do Peru, que era a principal fonte de riqueza dos espanhóis.
“Dominando as minas, eles poderiam mudar os rumos da história. Existia a hipótese dos ingleses virem pra cá, para acharem uma forma de chegar às minas. Dominando as minas, eles mudariam a geopolítica da época”, explicou.
Outro achado de Marlos que comprova o tempo que os exploradores ficaram na cidade foi a carta patente dada pelo rei James l em 1613 ao Capitão Robert Harcourt. A carta dava autonomia administrativa e monopólio sob uma área que ia do Rio Amazonas até o Rio Essequibo, no atual Suriname.