Por ANDRÉ ZUMBI
Ainda não há um número preciso de crianças e adolescentes que estão em tratamento ou que foram diagnosticadas com câncer Amapá em 2022.
O estado não possui estatística que mostrem o cenário atual da doença. Não possui, também, diagnóstico, protocolo de atendimento e nem parceria com hospitais que possam receber a demanda estadual.
Esses problemas são tema de uma live promovida pela ONG Carlos Daniel, de Macapá, nesta quarta-feira (15), em alusão ao Dia Internacional de Luta Contra o Câncer Infantil. Participam do evento convidados gabaritados no assunto, como a médica onco-hematologista, Adriana Seber, e o juiz de direito Marconi Pimenta.
A transmissão inicia às 19h30min na página da instituição no facebook e pelo link do Youtube.
O caso de Davi Rocha Ferreira, de 8 anos, foi um dos mais divulgados no estado e é um dos exemplos da falta de políticas públicas no Amapá para o tratamento da doença.
Ele faz tratamento de retinoblastoma, tumor que cresce na retina dos olhos. A doença foi descoberta quando ele tinha apenas 5 anos. Desde então, faz o acompanhamento em um hospital de São Paulo (SP).
Dia 9 de fevereiro fazem 2 anos que ele fez transplante de medula óssea. Precisou passar pela quimioterapia, 28 sessões de radioterapia e agora precisa apenas fazer a manutenção do tratamento. Está praticamente curado.
Os primeiros sintomas da doença, lembrou a mãe do menino, Raimunda Noelina, de 38 anos, começaram em 2019. Davi apresentou dores forte na cabeça e, segundo a médica que fez o atendimento inicial dele, era apenas uma virose. Mas, as dores só aumentaram com o passar dos meses.
“Davi passou a ter muita febre o olho começou a crescer muito pra fora, foi então que, já em janeiro de 2020, ele ficou internado e o pesadelo começou”, lembrou Raimunda.
Ela relatou que o diagnóstico prévio – de que se tratava de um tumor – foi dado aqui no Estado, mas o definitivo veio através de exames mais específicos que só puderam ser feitos no Hospital de Clínicas em São Paulo. Mas até chegar naquela cidade eles tiveram que enfrentar experiências dolorosas.
“Em meio à pandemia, tivemos alguns imprevistos pra sair de Macapá, os aeroportos fecharam, ninguém ia e nem vinha, e pra piorar, o hospital cancelou a consulta, que seria em abril, ficamos aguardando e viajamos dia 11 de junho, e no dia 12, tivemos a primeira consulta no Hospital das Clínicas em São Paulo, fizemos exames e foi confirmando que era retinoblastoma e que estava no penúltimo estágio da doença”, lembrou.
As passagens aéreas para eles chegarem a cidade foram pagas pelo Programa Fora de Domicilio do Amapá (TFD), mas as consultas e a vaga no Hospital de Clínicas veio graças a ONG Carlos Daniel. A instituição ajuda as crianças e adolescentes a chegarem até onde possam receber o tratamento.
Em 2022, ela atendeu cerca de 30 crianças, mas segundo o presidente, Agenilson Silva, esses foram apenas os casos que passaram pela instituição. Há aqueles em que os pais atendidos por hospitais particulares são encaminhados diretamente para hospitais que possuem parceria fora do estado. Agenilson calcula que a ONG atenda cerca de 60% dos casos do Amapá.
“O câncer infantil no Amapá nunca foi levado a sério. É importante que todos estejam envolvidos, desde porta da entrada, como o Programa Saúde da Família. É importante que municípios e estado alinhem com o governo federal, porque precisamos conhecer os sinais e sintomas. Aqui, no Amapá, não vemos políticas públicas para alertar a população para a quanto os sinais e sintomas”, desabafou o presidente da ONG.
Atualmente, a ONG faz o acompanhamento de 56 de pacientes.
“O Davi é o caso onde a ONG conseguiu tudo pra ele. Fez ‘químio’, radio, transplante de medula óssea, ficou em uma das melhores casas de apoio do Brasil”, lembrou o presidente.