Casa Fora do Eixo e o ‘faça você mesmo”

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Logo ali, na Avenida Tembés, no bairro do Beirol, tem um bando de caras que moram numa espécie de república universitária compartilhando um movimento que é quase uma filosofia de vidam, a cyber cultura punk. Esse paradigma é sempre baseado no “faça você mesmo”. E a iniciativa chegou há três anos em Macapá, se materializando em dois grandes festivais da música independente, o Festival Quebra-Mar e o Grito Rock.

Assim a Casa Fora do Eixo se instalou no Amapá, com o objetivo de buscar editais de incentivo à cultura que pudessem trazer um pouco da cena musical independe do Brasil para o Extremo Norte do país. A iniciativa surgiu com reunião de músicos e comunicólogos que criaram o Coletivo Palafita, em 2005, com o intuito de reunir artistas em várias expressões e em diversos pontos da cidade.

casa fora do eixo

Na época, os “coletivos” (movimentos culturais segmentados) se disseminavam pelas cidades do Brasil, um caminho que resultaria na Casa Fora do Eixo, coletivo que queria levar para outros cantos as expressões artísticas do Centro Sul. “Com o intercâmbio, que começou com a disseminação pela internet, as pessoas que moravam afastadas dos grandes centros começaram a se sentir excluídas dos vários incentivos culturais que premiavam sempre projetos do Centro-Sul, principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo, que na nossa linguagem são o Eixo. Assim surgiu um movimento em Cuiabá, Rio Branco e no estado do Paraná que queria levar esses incentivos aos estados mais afastados do eixo, surgindo assim o movimento Fora do Eixo, que mais tarde criaria várias casas espalhadas pelo país”, lembra um dos precursores da Casa no Amapá, Otto Ramos.

No Amapá, o Coletivo Palafita focava suas ações nas atrações musicais do estado, dando espaço às bandas independentes que hoje podem ser acompanhadas pelo menos uma vez no mês no Projeto Liberdade. “Antes fazíamos nossas reuniões nas praças para organizarmos eventos de música. Tudo começou com música. Porém, em 2010, essa realidade iria mudar. Deixamos de ser um bando de guris que ser reúnem na praça e passamos e ter um QG para organizarmos os nossos projetos e darmos um caráter mais profissional ao movimento”, Otto.

OTTO (2)

Otto Ramos

Numa certa ocasião, Otto e os amigos Paulo Zab e Heluana Quintas estavam navegando pela internet, no campus Marco Zero da Unifap, quando encontraram um site que falava sobre a disseminação de um movimento fora do eixo que tinha como principal nome um guri de Cuiabá, Pablo Capilé.

O debate se ampliou e a busca por incentivos culturais se intensificou, principalmente no Amapá, que começou a ver na juventude cyber punk uma forma de mudar uma realidade excludente e massificadora do fazer cultural. “Nós [Coletivo Palafita] já corríamos atrás de incentivo à cultura, mas com certeza isso se intensificou com a abertura do movimento fora do eixo, que hoje é o difusor do principal festival de música independente do Amapá, o Festival Quebra-Mar. O movimento conta com a participação de 45 colaboradores que atuam na busca de incentivos culturais.

2013

O ano passado com certeza foi o momento em que o grupo mais ganhou visibilidade na mídia nacional, principalmente com o surgimento da “mídia ninja” (pessoas transmitem fatos e eventos sem vínculo comercial ou jornalístico por meio das redes sociais). A iniciativa ganhou muitos adeptos, assim como muitas críticas, foram taxados de anarquistas, ou simplesmente rebeldes sem causas.

Logo os debates acalorados ganharam a mídia com criticas de figuras conhecidas da música, como Lobão, que até compôs uma música em crítica ao movimento:

Trecho da Música “Eu não vou deixar” de composição do Lobão.

“Mané querendo mudar o mundo

Engenheiro social

Tungando a grana de artista

Inventando edital

Direito autoral ele também não quer,

Mas eu não vou deixar

Patrulha e desespero,

Evangelho coletivo

Doutrina de carola estatizado e vendido

Rebelde chapa-branca quer que eu cale

Mas eu não vou deixar”

Os debates acalorados proporcionaram duas frentes. Uma apoia o cooperativismo do grupo nessa busca pela disseminação da cultura pelo Brasil. A outra é formada por pessoas que criticam e afirmam que essa iniciativa é, na verdade, uma quadrilha que usa o nome “independente” para usar os jovens como massa de manobra em prol de um crescimento individual.

casa fora

Para frente amapaense, essa discussão é uma reação das grandes mídias e dos empresários que não apoiam a disseminação do conhecimento. “Acho que o ano passado foi um marco principalmente para mídia ninja, que se fez presente nos protestos de junho, e a grande mídia se sentido atingida acabou por esquentar o debate”, opina o coordenador.

Seles Nafes
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