Por IAGO FONSECA
Há oito anos, quem passa pela Rua General Rondon, próximo da Universidade Estadual e da Catedral de São José, com certeza já viu Dina Rodrigues e Mauro Gomes, os microempreendedores da manga na capital amapaense.
Faça chuva ou faça sol, o casal inicia mais um dia de trabalho no Centro de Macapá. Diferente dos restaurantes, escritórios e grandes lojas, eles não têm que ‘bater o ponto’. Na verdade, os bancos de uma pequena praça são a vitrine do produto que mantém seu sustento: a manga.
Enquanto Dina prepara o alimento, temperos e embalagens, Mauro colhe as frutas nas mangueiras do entorno.
“Não dá para a gente guardar dinheiro, mas todo dia a tarde temos o ‘franguinho’ da gente, a comida, o transporte e material. Moramos no Congós, então, todo dia temos que ter dinheiro para isso. Ainda tem gente que zomba, sabe? Vem aqui e diz que não temos trabalho, que não temos gasto nenhum”, revela Dina.
As críticas foram observadas pela reportagem quando Mauro apanhava frutas ao lado da catedral. Um homem, que também arrancava manga da árvore, teceu comentários negativos para o trabalhador, que ignorou e continuou a colheita.
O casal afirma que o trabalho garantiu os estudos da filha até o momento em que ela entrou na faculdade, com materiais escolares, transporte e alimentação.
“Foi com isso que paguei a educação da minha filha, que está se formando agora, graças a Deus. Será professora, mas ela já está trabalhando também agora de caixa em um supermercado. Aí a gente vai vivendo, né? O que tinha para pagar por mês, tudo que a escola pedia a gente tirava daqui. Desse trabalho aqui”, conta Dina.
Aos 48 anos, Dina conta que por muitas vezes pensou em desistir quando veio ao Amapá há uma década junto com o marido Mauro, de 50 anos. Foi em um momento sem trabalho e com fome, durante um inverno forte, que uma ideia clareou a cabeça de Mauro. Ele olhou para o asfalto, viu muitas mangas caídas e disse ao cunhado: “Bora vender manga?”.
“’Tu é doido, velho?’, meu irmão falou pro meu marido. A ideia veio mesmo de Deus, né? Aí, eles foram no comércio e compraram o pacotinho, a rede, a faca, sal e [pimenta] cominho. Sentaram no chão mesmo e começaram a descascar”, conta a esposa.
O trabalho permanece o mesmo desde então. Em um banco de madeira ficam as redinhas com 14 mangas colhidas, que não tocam o chão, a R$ 10. Enquanto em uma corda são expostas sacolas com cortes de manga em tiras e um pacote de tempero a R$ 7. O cliente escolhe entre o sal puro ou misturado com cominho.
De setembro a março, enquanto Dina e Mauro trabalham na esquina da Avenida Mendonça Furtado, o irmão assume o outro ponto, próximo da Ueap. Quando chove, se abrigam em uma tenda improvisada com lona, armada com apoio do muro de proteção da caixa d’água do Centro.
Hoje, a família centraliza as forças na venda da fruta e quando a safra acaba, vendem jambo ou fazem outros serviços por ‘bico’, de acordo com Mauro.
Questionada sobre o futuro, Dina diz que não se vê fazendo outra coisa. Com problemas de saúde por causa de uma hérnia de disco, ela reforça que o apoio de pessoas boas os motiva a continuem o trabalho.
“Hoje em dia as pessoas vêm aqui e às vezes no ajudam, doam cestas e até oferecem outro trabalho, mas a gente continua aqui também. Eu sou mulher e estou trabalhando. Não estou roubando e isso é suficiente, tem muita gente fazendo coisa errada e a gente só está querendo trabalhar”, conclui Dina.