Por IAGO FONSECA
Os besouros que infestam há dois dias o município de Amapá, a 310 km de Macapá, podem ser utilizados como complemento alimentar de animais em pasto.
Apesar de comuns nessa época do ano, os insetos surpreenderam moradores pela alta quantidade, aos milhares, que cobrem ruas e calçadas de preto. Na segunda noite, moradores apagaram as luzes de suas casas para tentar evitar a atração.
O engenheiro agrônomo e entomólogo Alexandre Jordão, pesquisador do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa), contou ao Portal SN.com que há estudos onde os artrópodes são utilizados como complemento alimentar de animais, por isso, ele vê o momento como uma oportunidade.
“É um fato histórico bastante importante, essa grande quantidade de besouros há que se aproveitar. Esses insetos são constituídos em sua maioria por quitina, que compõe o exoesqueleto do corpo. É proteína, por isso eles podem ser constituintes de ração a peixes, a bovinos, equinos e suínos”, revelou Alexandre.
As ‘catorras’, como é chamada a espécie na região, podem ser trabalhadas, trituradas e fornecidas na ração animal, mas sua massa também pode ser utilizada para compostagem de adubo orgânico.
“Existem, ainda, pesquisadores que colocam esses insetos na alimentação humana, mas no Brasil os trabalhos nesse sentido ainda são iniciais”, complementou o entomólogo.
O fenômeno de revoada é comum na região amazônica pela mudança de estação climática. No Amapá, as chuvas intensas podem ter alagado as áreas onde as larvas se alimentavam e a iluminação da Lua podem ter atraído os insetos para a cidade, que se estabeleceram por toda a extensão das ruas com a presença das luzes de postes e casas, segundo o pesquisador.
“Certamente devido a um desequilíbrio ambiental, os besouros foram atraídos. Na região onde o fenômeno ocorreu tem se intensificado a exploração pecuária, com predomínio da bubalinocultura, assim plantios de capins para a formação de pastagens. Anteriormente, havia a vegetação típica dos ecossistemas amazônicos, algumas em áreas alagadas. Os predadores sapos, lagartos, aves, outros insetos ou mesmo parasitóides não conseguiram conter o surto da população destes besouros”, reforçou Alexandre.
As catorras não transmitem doença para humanos, garantem os especialistas, porém, podem causar alergias em pessoas sensíveis pelo contato com corpo do inseto contendo detritos, ou batidas nos olhos, ouvidos ou boca de pessoas durante o voo do inseto.