Por SELES NAFES
A vida de Cristiane Amanajás Oliveira, de 38 anos, tinha tudo para ser boa e produtiva, se dependesse apenas da vontade dos pais adotivos. Mãe de cinco filhos, ela era dependente química e uma pessoa com a vida conturbada. Ontem (21), depois de quatro dias, ela foi identificada como a vítima desovada em um matagal, no Bairro do Coração, na zona oeste de Macapá.
Cristiane foi sepultada hoje (22) cedo, no cemitério São Francisco de Assis, na BR-210. Foi uma cerimônia rápida. O corpo saiu do IML direto para o cemitério, pois estava em avançado estado de putrefação, o que impediu o caixão de ser aberto para as últimas homenagens.
Os pais adotivos foram enviados pelos filhos para uma cidade no Pará, para não serem impactados pela notícia da morte dela. O pai tem 92 anos, e a mãe pouco mais de 80 anos.
“A mãe entrou numa depressão profunda por causa da Cristiane”, revela um dos filhos.
Pai biológico
Os primeiros meses de vida de Cristiane já foram complicados. O pai biológico, que era envolvido em pequenos delitos no Amapá, se tornou investigador da polícia no Pará. Ele foi assassinado por bandidos no município de Itaituba (PA) durante uma operação policial na década de 80. Só mais tarde, a família descobriu qual tinha sido o destino dele, através da imprensa.
Ainda bebê, Cristiane foi adotada pelo casal de uma família tradicional que a trouxe para Macapá. Atualmente, a mãe biológica mora numa área de pontes do Bairro Zerão, na zona sul de Macapá.
Durante a adolescência rebelde e já envolvida com drogas, a família chegou a enviá-la para um internado adventista no interior do Pará, onde a mensalidade era bem alta. Cinco meses depois, Cristiane acabou sendo expulsa da instituição.
De volta a Macapá, ela se afundou ainda mais no vício de álcool e drogas. Ao longo dos anos teve cinco filhos, todos de relacionamentos diferentes. As crianças foram encaminhadas pela justiça para adoção.
Cristiane já tinha sido presa por assalto e chegou a cumprir pena no Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen). Ela também tinha um mandado de prisão em aberto e não possui endereço fixo. Vivia em residências de namorados.
No último domingo (18), o corpo dela foi encontrado amarrado em dois lençóis. A polícia encontrou uma corda no pescoço dela.
O laudo da Polícia Científica, que ficou pronto ontem, apontou asfixia mecânica como a causa da morte de Cristiane. A estimativa dos peritos é de que o homicídio tenha ocorrido por volta do dia 15. A Polícia Civil do Amapá ficou de falar sobre o assunto numa coletiva de imprensa marcada para esta manhã.
O corpo dela só foi identificado ontem quatro dias depois de ser descoberto. Por pouco, ela não foi sepultada como indigente, a exemplo do pai biológico.