Por SELES NAFES
O jornalista Renivaldo Costa era apresentador de jornal e sempre foi um amante dos livros e da poesia. Por isso, quando aceitou subir num ringue de boxe para trocar socos com outro grande comunicador da época (2006), Belair Júnior, o interesse público no evento foi gigantesco.
Nos últimos anos, o mundo do entretenimento esportivo tem experimentado um boom de eventos como o protagonizado no último fim de semana entre o campeão do BBB1 e influencer Bambam, e o tetracampeão mundial de boxe, Popó Freitas. Virou um grande negócio.
Em Macapá, em 2006, a ideia já era exatamente essa: unir dois comunicadores com grande visibilidade para trocar socos e atrair investidores para o MMA. A luta entre Renivaldo e Belair, a principal daquela noite na sede do Trem Desportivo Clube, ocorreu numa época em que a principal rede social era o Ortkut.
Antes da luta, os dois se provocaram muito em seus respectivos programas de televisão, Renivaldo no Macapá Urgente (Band) e Belair no Bronca Pesada (Rede TV). A temperatura subiu na noite do confronto, que demorou mais que os 36 segundos, mas foi encerrada precocemente.
Após a luta entre Bambam e Popó, muita gente relembrou esse episódio pitoresco em Macapá e até o próprio Belair chegou a pedir uma revanche. Ele foi desclassificado por ter aplicado um golpe abaixo da linha da cintura, naquele local que faz todo homem ajoelhar.
Conversamos com os dois e fizemos as mesmas perguntas a ambos.
O que você achou do evento do Popó e o Bambam? Você assistiu?
Renivaldo: Sim, acompanhei toda a hostilização entre os lutadores e dava pra ver claramente que havia muito de marketing em torno da luta. Mesmo maior, Bambam não teria nenhuma chance com Popó, que é um lutador experiente e que seguramente usaria o tamanho de seu opositor contra ele mesmo.
Belair: Esse evento, do ponto de vista midiático, foi um grande sucesso, inclusive muito lucrativo, até onde eu sei. Porém, partindo para o lado esportivo, foi uma chacota.
Como surgiu a ideia do evento com vocês em 2006?
Renivaldo: Eu e Belair fazíamos programas da linha comunitária e policial. Influenciados pelo grande sucesso de programas como Barra Pesada, do nosso confrade Luiz Eduardo Anaice, resolvemos fazer programas policiais locais, cada um na emissora que atuava. Surgia o Bronca Pesada e o Macapá Urgente. Isso há 20 anos. Depois de algum tempo, era preciso criar estratégias de promoção dos programas e pelo fato de algumas pessoas suporem que havia uma animosidade entre nós, por disputarmos audiência no mesmo horário, usamos isso a nosso favor pra promover a luta. É evidente que tudo não passou de uma brincadeira.
Belair: A ideia era promover e desmistificar o “vale tudo”, que na época era marginalizado e malvisto, inclusive pelos colegas jornalistas.
Qual programa você apresentava na época?
Renivaldo: Eu fazia o Macapá Urgente, pela TV Band, uma versão do Brasil Urgente, que liderava nos finais de tarde com o Datena. O programa começou com apenas 15 minutos, após o Macapá Notícias, noticiário local, e logo mereceu da emissora uma hora de exibição. Também por influência do Anaice, que tinha um anão em seu programa, convidei a Rosinha, que apresentava junto comigo, sempre com uma fantasia diferente.
Belair: Já apresentava o Bronca Pesada, que completa seus 20 anos. Na época, éramos rivais, pois tínhamos programas nos mesmos horários, competindo pela audiência.
Lembro que vocês se provocavam, cada um em seu programa…
Renivaldo: Nessa época as redes sociais ainda não tinham a força que tem hoje, mas já existia Facebook e Twitter e através desses canais, gravávamos vídeos, com provocações bem contundentes. Quem não nos conhecia supunha que existia realmente uma rivalidade.
Belair: (Não respondeu).
Como foi a sua preparação?
Renivaldo: Como a coisa foi tomando uma grande proporção e as pessoas esperavam mesmo uma luta, mesmo que curta, eu tomei algumas aulas de boxe com o Luiz Fábio, que além de repórter do programa, era pugilista e professor de Educação Física.
Belair: Minha preparação foi feita pelo Guigui, que vinha de excelentes lutas e grandes vitórias, auxiliando-me naquele momento.
Qual foi a repercussão naquela época em que as redes sociais ainda não eram tão fortes?
Renivaldo: Muita gente, que supunha que a briga era realmente valendo, e não era muito simpático à linha dos programas policiais, formulou reclamação junto ao Sindicato dos Jornalistas, que chegou a reunir pra tratar sobre o assunto. Lembro que o procedimento foi conduzido pela Hanne Capiberibe, Alcilene Cavalcante e Gilvana Santos, que nos deram uma reprimenda. O Sindjor entendeu que ao promover aquela luta, estávamos incitando a violência.
Belair: Os comerciais sobre a luta eram veiculados no meu programa, e devido à grade do Bronca Pesada, era esperada uma certa repercussão. Mesmo assim, fomos surpreendidos com a proporção que o evento tomou. Era como um final de Copa do Mundo. Se as redes sociais fossem como são hoje, teríamos ultrapassado a bolha e talvez estaríamos nas páginas de todo o Brasil.
Nesses tempos de cancelamento nas redes sociais, como você acha que seria a repercussão hoje?
Renivaldo: Por incrível que pareça, penso que a luta seria melhor recebida. Naquela época – 20 anos atrás – ninguém conseguia imaginar dois apresentadores lutando num ringue. O sucesso das lutas entre Popó e Whinderson Nunes e agora com Bambam ajudaram a abrir os olhos das pessoas acerca da modalidade.
Belair: Apesar da cultura do cancelamento, acredito que as consequências hoje seriam diferentes da época da luta, de forma positiva. A Federação dos Jornalistas convocou uma assembleia para nos expulsar do sindicato devido ao evento, mas hoje não acredito que fariam o mesmo. Nas redes sociais, no máximo, seríamos um “meme”.
Você faria tudo de novo?
Renivaldo: Sem dúvida. Nunca fui um desportista na essência, mas faria sim. Há alguns anos até propus pro Belair de fazermos uma revanche a fim de arrecadar donativos para alguma entidade sem fins lucrativos. Lembrando que na primeira luta, Belair foi desclassificado por ter praticado golpe baixo e fui declarado vencedor.
Belair: Com certeza, faria tudo novamente. Claro que me prepararia mais, treinaria mais e conheceria as regras para não ser desclassificado novamente. Falo isso em tom de brincadeira, partindo para o princípio esportivo, pois Renivaldo é uma pessoa pela qual tenho profunda admiração, tanto pelo excelente desempenho profissional quanto pessoal.