No dia 27 de junho e 2015, a Assembleia de Deus completou 98 anos no Amapá. Para comemorar a data os evangélicos fizeram uma semana de atividades sociais, litúrgicas e culturais. 40 mil fieis das quase 200 igrejas espalhadas pelo Estado foram mobilizados no evento.
As ações incluíram ação social no Centro de Educação Profissional Graziela Reis de Souza, localizada na Avenida Duque de Caxias, no Centro de Macapá. O encerramento da festa aconteceu no dia 4 de julho com um grande show da Cantora Aline Barros no estacionamento do Sambódromo.
Para falar sobre os 98 anos e da visão da Assembleia de Deus no Amapá, o site SELESNAFES.COM conversou com o 2º vice-presidente e administrador geral da AD no Estado, pastor Rodrigo Lima Junior. Ele é teólogo, pedagogo e estudante de Direito. Tem 37 anos, 13 deles como pastor da Assembleia de Deus, a Pioneira.
Nesse bate papo o pastor falou sobre homoafetividade, casamento, sexo antes do casamento, dízimo e a polêmica meta 15 do Plano Municipal de Educação, que levou a comunidade cristã e a comunidade LGBT a divergirem na Câmara Municipal de Macapá esta semana. Acompanhe os principais trechos da entrevista.
SelesNafes.Com: No Século XXI existe uma grande divergência de conceituação entre as igrejas protestantes, que apesar de seguir o mesmo Livro Sagrado apresentam divergências de doutrina. Hoje qual a diferença entre as congregações do protestantismo, em especial a Assembleia de Deus?
Rodrigo Lima Junior: Até na cabeça do próprio assembleiano isso gera muita confusão. Tudo porque a igreja cristã primitiva, lá no passado, começou um processo de divisão entre a ascensão do império romano e a reforma protestante de Martinho Lutero. Isso dividiu os cristãos entre o Catolicismo Romano e o Protestantismo, que serviu como parâmetro para o surgimento de outras doutrinas, que por sua vez serviram de base para as muitas denominações protestantes existentes hoje. Sobre o diferencial da Assembleia de Deus, que você me perguntou, posso dizer que é justamente a continuidade do seu trabalho. Nesses 98 anos muitas igrejas surgiram e desapareceram e a Assembleia de Deus aqui no Amapá continua firme, como uma instituição sólida, prestando o seu trabalho para a sociedade. Outra diferença é a nossa unidade doutrinária, pois a Assembleia pode divergir em alguns pontos em sua doutrina, mas em geral os nossos debates internos não apresentam grandes divergências. Além disso, conseguimos atingir todas as camadas da sociedade, de juízes a pessoas carentes.
Na sua opinião, essa pluralidade pode ter contribuído para as críticas sociais que a igreja sofre hoje?
Não há dúvida. As pessoas muitas vezes, por falta de conhecimento, não são capazes de discernir igrejas e igrejas ou pastores e pastores. O indivíduo abre uma igreja na garagem de casa e ele mesmo se consagra pastor. A partir daquele dia começa a desenvolver um trabalho espiritual. Muitas vezes são pessoas que não têm seriedade e pregam o que querem sem nenhuma base bíblica. Tem gente que só consegue ver dinheiro na Bíblia pregando a tal prosperidade financeira. Na Assembleia de Deus é diferente. Aqui, para uma pessoa chegar ao pastorado tem que passar por uma trajetória. Existe todo um caminho a ser percorrido. Só para se ter uma ideia, eu percorri um caminho de quase 28 anos para que pudesse chegar a ordenação pastoral.
Essa pluralidade também gera muitas críticas em relação ao dízimo. Qual é ideologia da Assembleia sobre esse assunto?
Muitas pessoas até brincam fazendo comentários do tipo: “Pequenas Igrejas, Grandes Negócios”. Mas o dízimo, para a comunidade cristã, independentemente da designação religiosa, é visto como uma administração de recursos. No Cristianismo, Deus é o dono de todas as coisas, inclusive da nossa casa, do carro e do emprego também. Nós administramos aquilo que é Dele. Tudo que possuímos não é nosso, é do Senhor. Logo, Deus é tão bom que dá 90% para você e requer que você deixe apenas 10% para ajudar na manutenção e expansão do seu Reino. O dízimo é um princípio. Não pregamos que é um caminho para a salvação. O dízimo é usado para que a igreja possa cumprir o seu papel na terra, que é o atendimento das necessidades das pessoas, sejam elas espirituais ou humanas.
A homoafetividade é outro ponto de críticas às igrejas. Como a Assembleia de Deus vê essa questão?
Como toda religião nós temos um manual prático de fé, assim como o Alcorão, dos muçulmanos, e a Torá, dos judeus e hebreus. Para o cristão, o livro é a Bíblia Sagrada, que norteia e estabelece os parâmetros da nossa fé. E para o nosso livro, a família surge a partir da união de um homem com uma mulher. Desse modo, qualquer tipo de união adversa é considerada uma anormalidade. Agora, dizer que o homossexual não tem salvação, isso não é verdade. Muito pelo contrário, nós também entendemos através da Bíblia que o Evangelho deve alcançar a todos. Nós não discriminamos pessoas, não temos preconceito. Mas pela nossa formação repudiamos condutas e combatemos comportamentos. E a conduta homoafetiva não é recomendada pela Escritura Sagrada. Isso não quer dizer que um homossexual não pode entrar nas nossas igrejas. Ele será bem recebido e poderá participar dos cultos e de nossas atividades. Evidentemente que ele vai ouvir dentro do discurso da liturgia, que a conduta que pratica é contrária a ideologia do Livro Sagrado. Divergir não é discriminar.
Inclusive esse assunto foi motivo de um debate na Câmara de Vereadores durante a votação do Plano Municipal de Educação. O que a Assembleia entende a partir desse plano?
Não temos um discurso de discriminação contra os homossexuais. Mas nossa conduta nos posiciona de maneira contrária a homoafetividade. Quanto ao PME, fomos lutar porque consideramos uma afronta. Não apenas à família evangélica, mas às famílias de um modo geral. Não é possível que se inclua na educação básica a ideologia de gênero, que é um conceito que sequer é bem formatado. Defendemos que uma criança não tem capacidade de discernimento para uma orientação desse nível e nós lutamos e aprovamos as mudanças para que o direito ocorra apenas aos 18 anos, com a maior idade civil.
O senhor falou sobre o conceito de família. Observamos que hoje a instituição formada através do casamento pode se tornar um discurso banal. Como o senhor como líder analisa essa “mudança”?
De fato o casamento é uma instituição banalizada por duas razões: primeiro pela falta de conhecimento dos princípios bíblicos que orientam sobre o casamento. E o segundo, é em função do próprio Código Civil Brasileiro, que em 2002 abriu muito no aspecto conjugal. Existem pontos positivos, mas também têm muitos negativos. Por exemplo, o código facilitou o divórcio, que leva ao fim o laço matrimonial por qualquer motivo. Hoje a pessoa se conhece no sábado, casa no domingo e se divorcia na segunda. Tudo por conta das facilidades que são dadas pela legislação.
O que a igreja faz nessas situações?
Nós continuamos pregando em favor da família e buscando converter as uniões estáveis em casamento. O Código Civil se baseia no código matrimonial e a Igreja ainda busca resguardar o patrimônio moral, ético, e filial. Muitas vezes o casamento acontece como um contrato. Um exemplo é o caso do Ronaldo e a Cicarele, que fizeram um contrato pré-nupcial milionário. Então, percebe-se que a preocupação hoje não é com o amor, o afeto, mas sim com o aspecto patrimonial, e isso se deve a banalização. Hoje as pessoas não vêem muita razão para casar.
Esse assunto também leva à ideologia do sexo antes do casamento. Como o senhor observa o tema dentro da ótica da Assembleia de Deus?
A igreja continua preservando o sexo depois do casamento. Nós entendemos que a relação sexual é a consolidação do casamento. Isso tem base bíblica. O Livro Sagrado diz que Deus criou o homem e a mulher e eles se tornaram uma só carne. Isso quer dizer que o casamento é monossomático, que é quando as pessoas se unem e essa união não é apenas afetiva, mas uma união carnal, uma aliança. Existem pesquisas científicas que apontam que na relação sexual há inclusive troca sanguínea, como se fosse uma aliança de sangue. Ou seja, quando uma pessoa se relaciona com várias outras é como se estivesse fazendo aliança com muitas pessoas, o que no geral se transforma em frustração. Entendemos que o casamento ajuda as pessoas a estarem primando pelo princípio de manter a aliança com apenas uma pessoa. Além disso, o sexo com apenas uma pessoa evita uma série de problemas como doenças sexualmente transmissíveis. A presença da Aids seria muito menor se não houvesse tanta infidelidade conjugal.
E em relação métodos contraceptivos?
Os protestantes já superam esse tabu. O discurso do tipo, crescei, multiplicai e enchei a terra ficou no passado. Era utilizado para as sociedades antigas que tinham esse objetivo. Hoje isso é até inviável. Atualmente para se educar um filho é difícil, imagina cinco ou dez. Então, entendemos que Bíblia nos dá a permissão para que haja o planejamento familiar, dando qualidade vida aos filhos. Nós só não recomendamos o uso da pílula do dia seguinte, pois para a doutrina seria um método abortivo, já que consideramos a vida a partir da fecundação.