Por JONHWENE SILVA, de Santana
Quem precisa transitar pela movimentada Avenida Santana, na cidade de Santana (a 17 km de Macapá), certamente já precisou dos serviços de Ronaldo Freitas Pereira. Em dias de grande movimento, o auxílio dele para encontrar uma vaga de estacionamento é providencial.
Figura peculiar e bastante conhecida, Poeirinha, como é popularmente chamado pelos moradores e trabalhadores da região, é uma pessoa portadora de deficiência que ganha a vida reparando carros, com muito trabalho e responsabilidade.
Evangélico, com o pai já falecido, é um dos sete filhos da Dona Zilda. Apesar das dificuldades impostas pela paralisia infantil que enfrentou, aos 43 anos Ronaldo sustenta-se com dignidade através do trabalho. A história de vida desse santanense mostra a realidade de quem é PcD e precisa trabalhar se quiser ter uma vida digna. Ainda criança, entrava nos ônibus da cidade e ficava rodando sem rumo.
“Eu acho que foi daí que surgiu meu apelido de Poeirinha. Eu vivia, andando no ônibus e brincando com as pessoas. Eu não pagava passagem e o pessoal do ônibus deixava. A minha vida sempre foi difícil porque tive essa paralisia e precisei trabalhar muito cedo”.
Há cerca de 20 anos, recebe a quantia de um salário-mínimo como benefício da Previdência Social, o que para ele é insuficiente. Poeirinha passa o dia todo reparando veículos na Avenida Santana, no trecho próximos aos bancos e a lojas movimentadas. Nunca teve problemas com os donos dos carros.
“Graças a Deus, as pessoas me conhecem. Às vezes, muita gente não paga, mas não tem problema. Eu entendo, porque não está fácil para ninguém. Mas, sempre tem alguém que dá uma gorjeta maior. Teve um dono que me deu vinte reais. Para mim, ajuda bastante”.
Segundo ele, o faturamento no local varia bastante. Há dias que chega a R$ 40, mas é daí para menos. No período de pagamento do funcionalismo público, a renda acaba sendo um pouco melhor. Apesar disso, trabalha com responsabilidade para que as pessoas não tenham confiança.
“Quando uma pessoa autoriza eu reparar seu carro, eu fico olhando e não deixo acontecer nada. Graças a Deus, nunca tive problemas com ladrões ou bandidos, mas a primeira coisa é ter responsabilidade”, afirma Poeirinha.
Dona Maria das Graças, de 72 anos, tem um pequeno quiosque e conhece Poeirinha desde criança. Ela o descreve como um rapaz que sempre foi bastante trabalhador, por isso, o trata como um filho. Ela cuida dele durante o dia a dia.
“Ele chega cedo e passa o dia todo. Às vezes, tenho que ficar mandando ele ir pra casa, às seis da tarde, quando estou fechando e ele quer ficar até mais tarde. Mas é um bom garoto e trabalha com responsabilidade. Já vi muitas pessoas que confiam mesmo deixando o carro para ele reparar. É um bom rapaz e trabalhador”, afirma dona Graça.