O povo de Macapá, especialmente o mais pobre, atendeu à convocação da Prefeitura de Macapá e da Confraria Tucuju, ambos organizadores da programação alusiva aos 256 anos da capital. O ponto alto da festa era “Parabéns Pra Você” e o corte do bolo, como sempre ao lado da Praça Veiga Cabral, berço de Macapá. Mas a falta de organização e um atraso de quase duas horas, causaram filas, cansaço, indignação, e por pouco não tiraram o brilho das comemorações.
A programação ficou a cargo da Confraria Tucuju e financiada pela prefeitura. Apesar de modesta, foi uma das mais criativas e autênticas dos últimos anos. Desde a semana passada algumas paradas de ônibus vinham recebendo música ao vivo. Nos bairros, oficinas e palestras tratavam de espalhar a cultura macapaense e nesta terça-feira, 4, o povo começou a chegar cedo para participar da missa na bicentenária igreja de São José. Logo em frente, um bolo de 50 metros (50 é o número do PSOL, partido do prefeito Clécio Luis, mas deve ter sido coincidência) aguardava o grande momento. O bolo, aliás, foi caprichado este ano. Tudo ornamentado com imagens e símbolos de Macapá.
A maioria das pessoas chegou cedo, como o soldador Lauro Gomes. “Disseram que ia ser às 10 horas, então a gente chegou 9 horas”, dizia ele na companhia da esposa, filhos e uma vasilha plástica nas mãos esperando pelo prometido bolo, numa cena que se repetiu no gesto de muita gente humilde de vários cantos da capital.
Algumas pessoas fizeram uma fila que saia do local da festa, descia a Rua São José e chegava à Avenida General Gurjão, a mais de 300 metros. Só que uma multidão ainda maior rodeava o cercado montado pela Guarda Municipal para proteger o bolo. E haja atraso. Era preciso esperar a chegada das autoridades, entre eles o governador Camilo Capiberibe (PSB) e o prefeito Clécio Luis que acabou sendo representado no ato pelo vice-prefeito Alan Sales. “É preciso respeitar os horários. As pessoas estão aqui desde cedo e começam a ficar indignadas”, comentava a presidente do Sindicato de Panificação e Confeitaria do Amapá, Alice Caxias, responsável pela confecção do bolo.
Quando o bolo enfim foi cortado pelo governador, ele e a primeira dama Cláudia Capiberibe serviram as primeiras fatias a pessoas do povo. O vice-prefeito fez o mesmo, até que começou a distribuição por funcionários da PMM, da Confraria (até eu ajudei).
Não havia organização nenhuma. As cenas lembravam um campo de refugiados pedindo comida em algum país em guerra civil. A fila não foi respeitada. As pessoas gritavam com as vasilhas e sacos plásticos estendidos. Alguns tinham sorte, geralmente os mais velhos e as crianças eram logo atendidas. Mas a massa se espremia nas grades. Bastou a primeira pessoa pular o cercado e todas as outras fizeram a mesma coisa. Mesas foram quebradas e muito bolo caiu pelo chão. Assustada e sem iniciativa, a Guarda Municipal só assistia a tudo passivamente.
Aos 256 anos, a capital precisa de cuidados urgentes. É um paciente esperando sair do CTI para a enfermaria. O macapaense espera muito mais que um bolo e uma canção de parabéns.