Por RODRIGO DIAS
Uma das noites mais esperadas do 28º Encontro dos Tambores de 2023 foi a dos concursos “Mais Belo Negro”, “Mais Bela Negra” e “Musa Diversidade Negra”, realizados no Centro de Cultura Negra do Amapá Raimunda Ramos, no Bairro Laguinho, região central de Macapá. Contudo, o evento, que celebra a beleza negra e a ancestralidade, ainda gera polêmica.
Realizado em 19 de novembro de 2023, o concurso voltou aos holofotes esta semana após a Justiça decidir pela anulação do resultado na categoria feminina, que elege “A Mais Bela Negra”.
Na ocasião, Noanne Gurjão foi anunciada campeã, com Lorrany Mendes ficando em segundo lugar. No entanto, a defesa de Lorrany identificou irregularidades na avaliação e na apuração dos votos, levando o caso à Justiça.
No processo, foi anexado um trecho do regulamento que, no parágrafo 6° (Dos critérios de avaliação), determina que a banca avaliadora deveria ser composta por cinco membros. No dia do evento, porém, um sexto membro foi incluído de última hora: o padre Paulo Roberto Matias da Conceição. A nota dele foi decisiva para o resultado final.
Nas avaliações dos jurados Reginaldo Santos, Cristina Almeida e Josilana Santos, Lorrany obteve a nota máxima (60 pontos), enquanto Noanne recebeu 59 pontos. Já os jurados Mirreth Karoliny e Cirley Picanço empataram as duas candidatas com 60 pontos.
Com as notas dos cinco jurados oficiais, Lorrany somou 300 pontos, enquanto Noanne ficou com 297. Porém, ao incluir a nota do padre Paulo — que deu 55 pontos para Lorrany e 59 para Noanne —, a campeã recuperou a diferença e ultrapassou Lorrany por um ponto.
Além disso, as notas baixas do padre Paulo não foram justificadas, como exigia o regulamento. A defesa de Lorrany também alegou que Noanne não foi penalizada por ter chegado atrasada a um dos ensaios, o que deveria resultar na perda de pontos, conforme o regulamento.
Houve discussões no dia do evento após a apuração, e Noanne foi coroada em uma cerimônia mais restrita no dia seguinte.
A defesa de Lorrany ingressou com ação judicial apresentando provas, e o Tribunal de Justiça do Amapá intimou a UNA (União de Negros do Amapá) em 27 de novembro de 2023. A entidade não contestou a versão apresentada, e o juiz Nilton Bianquini Filho considerou as alegações da parte autora verídicas.
Na ação judicial, Lorrany solicitou a anulação das notas do padre Paulo e a recontagem das notas dos cinco jurados oficiais, além do pagamento da premiação de R$ 3 mil e a publicação do resultado em sites oficiais. No dia 14 de junho, o juiz Nilton Bianquini Filho, após analisar as provas, concordou e determinou a anulação do concurso.
A advogada de Lorrany informou ao Portal SN que, na tarde desta quinta-feira (10), houve uma reunião entre as partes na UNA. Durante o encontro, ficou decidido que, na próxima segunda-feira (14), será publicada uma nota oficial de retratação. A organização do concurso também se comprometeu a cumprir a decisão judicial e realizar a recontagem dos votos.