Da REDAÇÃO
O clima está cada vez mais tenso no Residencial Amazonas, situado às margens da Rodovia Duca Serra, na zona oeste de Macapá. Angustiados há 1 mês sem água, moradores voltaram a protestar, dessa vez com mais intensidade, na noite de ontem (16).
Revoltados com a situação e com promessas não cumpridas pelos donos do empreendimento, eles queimaram pneus e bloquearam a via, que interliga as cidades de Macapá e Santana, chamando a atenção para um problema que se arrasta há bastante tempo.
A manifestação exigiu a presença da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, que negociaram com os manifestantes para liberar a rodovia. Após um longo diálogo, o bloqueio foi desfeito, e as chamas dos pneus foram apagadas pelos bombeiros.
O desabastecimento crônico afeta as 451 famílias que já ocupam o residencial, além de obras em andamento. De acordo com os moradores, o problema está na infraestrutura insuficiente de abastecimento, com apenas três poços semiartesianos, dos quais apenas um possui outorga para operação, conforme explica o líder comunitário Milton Gleiton. Segundo ele, a capacidade do poço autorizado é de 120 metros cúbicos por dia, suficiente para atender apenas 120 casas, muito aquém da demanda atual, de 451.
A situação é agravada pela omissão dos responsáveis pelo empreendimento, que não concluíram o sistema de abastecimento prometido, aponta Milton Gleiton.
“Por lei, eles são obrigados a construir o sistema completo, já que estamos distantes da rede pública. Mas nunca fizeram isso, e agora tentam empurrar a responsabilidade para os moradores”, afirmou Milton, citando a Lei 6.766/79, que regula o solo urbano no Brasil.
Há duas semanas, os moradores realizaram um panelaço que resultou em um “acordo” com a proprietária do residencial. Ela prometeu repassar R$ 200 mil à associação de moradores assumir a resolução do problema. Em assembleia, eles decidiram não aceitar, pois o que querem é um sistema em funcionamento para abastecer suficientemente a demanda.
Entretanto, não houve mais movimentação do empreendimento e a situação apenas se agravou, culminando no protesto deste sábado (16).
Criado há cerca de 10 anos pela Importadora Amazonas, o residencial foi vendido com promessas de infraestrutura, como ruas asfaltadas, iluminação pública e abastecimento de água, mas nada disso foi plenamente entregue. A omissão da empresa tem gerado revolta, diz Milton.
“Quando uma bomba quebra, são os moradores que consertam”, reforça o líder comunitário.
Ele também destacou que, por contrato, cada proprietário foi obrigado a cavar seu próprio poço, algo que deveria ser responsabilidade da incorporadora.
Procurada em outras ocasiões, a empresa já havia alegado, através de nota, que a estiagem seria a responsável pela falta de água, argumento que os moradores rejeitam.
“O problema não é a seca. O problema é que o sistema foi mal feito e nunca foi terminado”, rebateu Milton.
Enquanto isso, a qualidade de vida das famílias continua sendo impactada. Moradores exigem que a empresa conclua o sistema de abastecimento e repasse a gestão à associação comunitária.
Milton disse que a comunidade vai manter a pressão até que a situação seja regularizada, por diálogo ou novas manifestações.