Por SELES NAFES
Em audiência de custódia realizada no fim do domingo (24), o juiz Moisés Ferreira Diniz, da Vara Única de Amapá, decretou a prisão preventiva do fazendeiro Francisco Canindé da Silva, marido a prefeita eleita Kelley Lobato (União) e acusado de ser o mandante do assassinato de Antônio Candeia, conhecido como “Maranhão”, de 80 anos. O homicídio ocorreu no último sábado (23) e teria sido motivado por disputas de terras.
Ao analisar a prisão em flagrante, o magistrado destacou que a liberdade de Canindé colocaria em risco a integridade do processo. Segundo o juiz, as testemunhas do caso apresentaram depoimentos reticentes, o que sugere intimidação ou orientação prévia. Além disso, Canindé possui histórico de envolvimento em disputas fundiárias, frequentemente judicializadas.
Na decisão, o juiz afirmou que há evidências de materialidade do crime e indícios suficientes da participação de Canindé no homicídio qualificado. Um vídeo apresentado pela testemunha Nilson Cabral da Silva revelou o momento em que Canindé, acompanhado de outras pessoas, abordou a vítima em uma tentativa de intimidá-la a aceitar condições em uma negociação fundiária. O encontro resultou na morte de Maranhão após uma discussão acalorada e disparos de arma de fogo efetuados por um dos acompanhantes de Canindé.
Os fatos
Conforme relatório da Polícia Civil, Canindé foi à propriedade rural de Maranhão acompanhado de Carlos, Adelson, Nilson e Waldiney, supostamente para resolver uma questão sobre um incêndio na fazenda de Canindé. Apesar de alegar não ter planejado o crime, Canindé admitiu ter levado o grupo até o local, mas disse desconhecer que Antônio Carlos Lima de Araújo estivesse armado.
Acusado de ser o executor, Araújo é sargento da reserva do Exército e está foragido. Ele teve a prisão preventiva decretada a pedido do delegado Stephano Dagher. O delegado acredita que o crime foi premeditado e filmado porque a intenção era provocar o idoso para gerar uma reação violenta que embasasse uma legítima defesa.
O vídeo apresentado à polícia revelou que a discussão entre Canindé e Maranhão escalou rapidamente, culminando em disparos fatais. A vítima, mesmo possivelmente tentando pegar uma arma, não chegou a usá-la, sendo alvejada várias vezes.
“Como não chegaram a comum acordo, a vítima pediu para o flagranteado (Canindé) se retirar do local, dizendo que ainda era o dono do terreno. Carlos (atirador), por sua vez, chegou a indagar à vítima se, caso o autuado não se retirasse, ele iria matá-lo, obtendo resposta negativa. A partir de então, Carlos assumiu a conversa, que foi tomando um tom cada vez mais acalorado, resultando nos tiros contra a vítima. Mesmo supondo que tenha tentado pegar uma arma que estava no saco em que carregava, fato é que a vítima já estava alvejada e ainda recebeu tiros outros que ceifaram-lhe a vida, sequer fazendo uso do artefato”.
Gravidade do Caso
O juiz considerou a ação de Canindé especialmente grave, ressaltando o contexto de disputa de terras em uma região marcada por conflitos agrários e o fato de a vítima ser um idoso de 80 anos, considerada “hipervulnerável”. Além disso, o histórico de Canindé em ações possessórias contribuiu para a decisão pela prisão preventiva.
Outro ponto que pesou foi o risco à instrução criminal. Três testemunhas relataram à polícia que “não prestaram atenção” à dinâmica dos fatos, um padrão que, segundo o magistrado, pode indicar pressão para ocultar detalhes do ocorrido.
A decisão judicial de mantê-lo preso, segundo Moisés Diniz, visa preservar a ordem pública e garantir que as testemunhas possam depor sem coação.