A República do Amapá

Amapá no centro do poder: influência política cresce em Brasília e define rumos estratégicos para o estado
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Por MARCO ANTONIO P. COSTA*

Houve momentos da história política do país em que alguns estados conquistaram proeminência nacional. Podemos citar a força de Minas Gerais, com JK e Tancredo; os gaúchos da “Terra dos Presidentes”, a São Borja de Getúlio e Jango; ou mesmo a força de sempre de São Paulo e Rio, como principais centros do país.

No entanto, o que temos acompanhado nos últimos anos, de forma proporcional e absoluta, é que o Amapá é hoje o estado com mais força e destaque em Brasília, o que se confirma com a segunda eleição de Davi Alcolumbre para a presidência do Congresso Nacional.

Trata-se do segundo cargo mais importante da República, a liderança do Poder Legislativo, que representa o povo no esquema montesquiano de freios e contrapesos. Não é um detalhe, é fato notório, histórico.

A esse fato junta-se a liderança do Governo Federal do senador Randolfe Rodrigues e o ministério da Integração Regional ocupado por Waldez Góes. Até deputados de primeiro mandato, como Dorinaldo Malafaia, vice-líder do governo, em pouco tempo já são vistos e visitados por ministros do núcleo político de Lula. Em 2024, o Ministério da Saúde liberou para o Amapá, fora os demais repasses, cerca de R$ 70 milhões para a reestruturação da rede laboratorial do Amapá. Além do Lacen, teremos um inédito Laboratório de Fronteira em Oiapoque. Gol de Malafaia.

Senador Davi Albolumbre: mais uma vez, o Amapá na condução do Congresso Nacional

Essa influência toda deve-se a dois motivos centrais:

1️⃣ A capacidade individual desses quadros, como a grande desenvoltura de Davi Alcolumbre, com habilidade para construir sínteses políticas amplas, e também a atuação mais ideologicamente marcada de Randolfe.

2️⃣ A decisão de Lula de privilegiar o Amapá. Sem nenhuma chance de erro, é possível afirmar que “nunca na história desse país” um presidente da República dedicou tanta atenção ao nosso estado quanto Lula neste seu terceiro mandato.

Para ficar em apenas um exemplo decisivo: foi Lula, a partir da intercessão desses políticos e da mobilização do povo do Amapá, que determinou que os ministros e técnicos encontrassem uma solução para evitar que o amapaense arcasse com um reajuste de 44% na conta de energia. Inventou-se um mecanismo que não existia só para que o povo do Amapá não fosse penalizado. Aqui não cabem opiniões ou interpretações, foi o que ocorreu.

Mas há outro ponto estratégico que reforça ainda mais a centralidade do Amapá: o debate sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial. O estado se tornou o epicentro de uma discussão que ultrapassa nossas fronteiras e envolve interesses nacionais e internacionais. Vivemos um período de transição energética, em que o mundo caminha para fontes renováveis, mas isso não exclui a necessidade de o Brasil utilizar, de forma soberana e estratégica, seu potencial petrolífero.

O próprio planejamento energético global aponta que, nas próximas décadas, o petróleo ainda será essencial para a segurança energética, especialmente em países em desenvolvimento. O Brasil pode – e deve – avançar na transição energética, mas sem abrir mão de explorar suas reservas com responsabilidade ambiental e social. Temos a maior empresa de energia da América Latina, a Petrobras, com expertise para garantir que essa exploração ocorra dentro dos mais altos padrões técnicos e ambientais. Fazer essa transição de maneira equilibrada e sustentável é o que permitirá que o país aproveite ao máximo seus recursos sem comprometer o futuro.

Margem Equatorial: Amapá virou epicentro de uma discussão que ultrapassa nossas fronteiras e envolve interesses nacionais e internacionais.

Além disso, a disputa geopolítica por novas fronteiras energéticas, como se viu nos tensionamentos do governo Trump em relação à Groenlândia, mostra que o controle sobre essas áreas ricas em recursos naturais é um tema de soberania nacional. O Brasil não pode permitir que decisões externas ou interesses alheios determinem seu direito de explorar de forma responsável seu próprio território e suas riquezas.

Diante disso, é essencial intensificar o que já vem sendo feito e buscar, enfim, finalizar obras estruturantes como a BR-156, que amargou quatro anos com apenas cinco quilômetros pavimentados, mas agora tem condições de dar um salto gigantesco.

Este é um momento favorável, que apenas começa a mitigar o histórico processo de enormes desigualdades regionais que marcam a história do Brasil. É tempo da República do Amapá e é hora de tentarmos arrancar nosso estado dos últimos lugares nos indicadores sociais e econômicos. É tempo de lutar para que o desenvolvimento, de fato, chegue à vida do povo pobre e trabalhador.

*Marco Antonio Pelaes Costa é professor e sociólogo.

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