Por LEONARDO MELO, de Santana
A Polícia Civil do Amapá solicitou mais uma vez a prisão preventiva do delegado Vladson Souza do Nascimento, acusado de usar a estrutura da PC e da PM para perseguir e fraudar um flagrante contra o assessor parlamentar Amadeu Moraes Júnior. O caso, que gerou grande repercussão, foi encaminhado para a 2ª Vara Criminal de Santana após o juiz de garantias se declarar incompetente para decidir sobre o pedido. Procurada pelo Portal SN, pela primeira vez a defesa do delegado se pronunciou sobre as acusações.
Segundo as investigações, o delegado teria agido por vingança contra Amadeu Moraes Júnior, que trabalha no gabinete do deputado federal Hildegard Gurgel (REP), por ser o atual namorado de Semiana Maciel Chagas, ex-companheira do delegado. Após o fim do relacionamento, uma medida protetiva foi expedida contra o delegado.
De acordo com a Corregedoria, Vladson Nascimento teria acessado indevidamente sistemas restritos da Polícia Civil, utilizado viaturas da PM para monitorar a vítima e, supostamente, instalado um dispositivo de rastreamento no veículo do assessor. Além disso, com a ajuda de uma tenente da PM, ele teria plantado drogas e uma arma de fogo no carro de Amadeu, resultando na prisão ilegal dele e de sua namorada (ex do delegado) na noite de 25 de outubro de 2024.
Destruição de provas e indícios de crime
Durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão na residência do delegado, no dia 23 de dezembro de 2024, a Corregedoria afirma que foi constatado que ele havia formatado seu celular antes da chegada dos agentes, o que, segundo a investigação, caracteriza tentativa de destruição de provas. Além disso, na delegacia em que ele trabalhava (em Pracuúba), foram encontradas porções de drogas na gaveta de sua mesa compatíveis às substâncias supostamente plantadas no carro do assessor.

Droga apreendida na mesa do delegado seria compatível com a que foi supostamente plantada no carro do assessor, segundo informou a Corregedoria

25 de outubro de 2024: PM de Santana aborda carro do assessor…

…e materiais apreendidos são apresentados na delegacia de Santana
Pedido de prisão preventiva
O pedido de prisão, assinado pelo delegado Tilly Agra Marreiro, chefe da Divisão de Feitos Funcionais da Corregedoria da PC, alega que a prisão é necessária para garantir a ordem pública e a instrução criminal, e que a liberdade do delegado representa risco, tanto pela possibilidade de reiteração criminosa quanto pelo seu conhecimento técnico, que poderia ser utilizado para interferir na apuração dos fatos.
Apesar da gravidade das acusações, o primeiro pedido de prisão preventiva foi negado, sendo substituído pelo afastamento do cargo. No entanto, com as novas evidências de destruição de provas e posse irregular de substâncias ilícitas, a Polícia Civil reforçou a necessidade da prisão.
Os advogados
O advogado Ivan Santos representa o assessor Amadeu Júnior, que teve o processo por tráfico de drogas suspenso após a operação contra o delegado. Para ele, as provas contra o delegado e a são contundentes e reforçam a tese de que ele e a namorada foram vítima de um flagrante forjado, arquitetado com o uso indevido do aparato do Estado.
“As evidências mostram que eles agiram em conluio para incriminar nossos clientes, utilizando o aparato do Estado para fins pessoais. A inércia da Polícia Militar e a falta de medidas mais rigorosas, como a prisão preventiva, são inaceitáveis. Exigimos a prisão preventiva dos dois diante das provas técnicas, investigação imediata e imparcial da Polícia Militar e a proteção efetiva de Amadeu e Semiana, que continuam sob risco de represálias. A sociedade não pode tolerar que agentes públicos utilizem o aparato do Estado para fins pessoais. Amadeu e Semiana são vítimas de um sistema que falhou em protegê-los. Cabe a nós garantir que a verdade prevaleça”.

Pedras de crack supostamente encontradas no carro foram apresentadas pela PM

Defesa do delegado critica “campanhas midiáticas” que tentam execrar Vladson Nascimento
A defesa de Vladson Nascimento é conduzida pelo advogado Gabriel Oliveira, que repudiou o que chamou de “campanhas midiáticas” contra delegado, que estaria sendo execrado apesar do currículo como policial que inclui operações interestaduais contra organizações criminosas no Amapá e transferências de presos perigosos para presídios federais.
A defesa também falou em “pressão política” para que o delegado plantonista não autuasse o assessor, “o que pode explicar a velocidade, importância e métodos utilizados nesta investigação”.
Sobre a intenção da Corregedoria em prender o delegado acusado, Gabriel Oliveira criticou ambos os pedidos de prisão.
“O primeiro, em tempo recorde (menos de 1 mês após a prisão do assessor), não apresentou elementos capazes de autorizar a segregação cautelar e foi negado pela justiça. O segundo pedido, fundado no argumento falho de que na gaveta de um dos gabinetes da delegacia em que o delegado trabalhava foram encontradas substâncias entorpecentes, também foi negado pela justiça, dado que o gabinete alvo da busca e apreensão é compartilhado com outros 5 delegados de polícia civil”.