Jovens cruzam Macapá para limpar sepulturas com orgulho e fé: ‘se desse a gente vinha todo dia’

Danilo e Diego trabalham como serviços gerais há cinco anos no Cemitério São José
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Por SELES NAFES

Enquanto boa parte da cidade ainda despertava, dois jovens já estavam com os pés na terra e as mãos na enxada. Neste domingo de Dia das Mães (11), Diego dos Santos, de 25 anos, e Danilo Pires, de 23, pedalaram cerca de 10 km para chegar cedo ao Cemitério São José, o maior de Macapá. O objetivo: trabalhar duro, com dignidade, limpando sepulturas e mausoléus por encomenda de famílias que desejam homenagear suas mães falecidas.

Munidos de enxadas, baldes, sabão, vassouras, rodos e muita disposição, os dois jovens são exemplos de força de vontade e respeito às memórias que repousam no campo-santo. Em datas especiais como o Dia das Mães, Finados e Dia dos Pais, eles já se tornaram figuras conhecidas entre os corredores silenciosos do cemitério.

“Já faz uns cinco anos que a gente trabalha aqui. Às vezes contratam, às vezes não, mas a gente já vem preparado”, conta Diego, com a tranquilidade de quem aprendeu a confiar na própria persistência.

Amigos chegam cedo e preparados. Fotos: Seles Nafes

Sepultura depois do trabalho dos dois amigos

O serviço custa entre R$ 80 e R$ 150, a depender do tamanho e do estado do túmulo, além das exigências do cliente. Para eles, mais do que um bico, o trabalho é uma forma de prestar respeito às histórias de outras famílias — ao mesmo tempo em que garantem o sustento da própria.

“O valor depende da negociação com o cliente e da complexidade do trabalho”, explica Diego.

Apesar do movimento tímido neste domingo, os dois comemoram o bom rendimento do dia anterior.

“Ontem foi bem melhor”, afirma Diego, sem qualquer tom de lamento.

Poucos parentes foram visitar as mães neste domingo

Orgulho e bom humor

Danilo, que mora no bairro Miracema, na Rodovia do Centenário, mantém o bom humor mesmo diante da longa jornada até o cemitério.

“Quem vem de moto é 5 km. Quem vem pedalando é bem mais”, brinca, rindo do próprio esforço.

Apesar das distâncias e da imprevisibilidade da clientela, os dois garantem que continuarão firmes no trabalho sempre que estiverem sem ocupação fixa. Para eles, não se trata apenas de renda, mas também de algo maior.

“Se desse, a gente vinha todo dia”, diz Danilo com sinceridade.

O suor derramado entre túmulos e lembranças não é só sinal de esforço físico. É também símbolo de respeito, resiliência e esperança de dias melhores — para quem parte e para quem fica.

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