Por RODRIGO DIAS
O que deveria ser um momento de fé e celebração ao Divino Espírito Santo se transformou em um grave caso de preconceito e racismo religioso, segundo lideranças culturais e representantes do Marabaixo em Macapá. Eles denunciam a postura desrespeitosa do padre Railson Araújo Carneiro, pároco da Paróquia de São Benedito, durante a missa do último domingo, 8 de junho.
Exclusão
As Associações Culturais Raimundo Ladislau e Barracão Tia Biló, representadas por Mestre Munjoca, e a Associação Cultural Marabaixo do Laguinho, representada por sua presidenta, Danniela Ramos, além do conselheiro de Política Cultural do Amapá, Iury Soledade, usaram as redes sociais para manifestar repúdio à conduta do sacerdote.
De acordo com nota conjunta, a sacralidade do Ciclo do Marabaixo foi relegada a um canto isolado da igreja, em gesto que simbolizou a exclusão e desvalorização da manifestação cultural. O ato, segundo os denunciantes, representa mais que descaso: configura racismo religioso.

Segundo as associações, a sacralidade do Ciclo do Marabaixo foi relegada a um canto isolado da igreja, em gesto que simbolizou a exclusão e desvalorização da manifestação cultural
“O Marabaixo não é folclore nem adereço. É uma manifestação ancestral, sagrada, parte fundamental da identidade do povo negro do Laguinho e de todo o Amapá”, afirmam.
As entidades destacam que a atitude do padre não foi isolada. Segundo elas, desde sua chegada à Paróquia de São Benedito, há cerca de cinco ou seis anos, o sacerdote tem protagonizado episódios recorrentes de desrespeito à cultura e à religiosidade afro-amapaense.
Pedido de audiência com o bispo
Diante do ocorrido, as associações e o conselheiro anunciaram que solicitarão uma audiência urgente com o bispo do Amapá, Dom Antônio de Assis Ribeiro, para relatar o caso e cobrar providências.
“Não podemos mais tolerar o silenciamento e a marginalização da nossa fé e cultura dentro de um espaço que deveria acolher e respeitar todas as manifestações espirituais do povo de Deus”, declararam em manifesto.

O ato, segundo os denunciantes, representa mais que descaso: configura racismo religioso
O grupo cobra a apuração do episódio e a tomada de medidas rigorosas contra o padre Railson, considerado responsável direto pelo ato discriminatório.
Apoio e resistência
O Movimento de Jovens Afrodescendentes do Amapá (MOJAAP) também assinou o manifesto, reforçando a defesa do Marabaixo como expressão legítima de religiosidade, resistência e identidade negra.
Até o momento, o padre Railson e a Diocese de Macapá não se pronunciaram oficialmente sobre as denúncias.