Da REDAÇÃO
O Samba 15, composto em parceria com o poeta amapaense Joãozinho Gomes, conquistou o festival de samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira e será a obra que a verde e rosa levará à Marquês de Sapucaí no Carnaval 2026. O resultado foi anunciado na madrugada deste domingo (28), após uma disputa acirrada com outras três composições no Palácio do Samba, no Rio de Janeiro.
No próximo ano, a escola de samba mais tradicional do carnaval brasileiro vai cantar o enredo “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”, homenagem que exalta a cultura do Amapá e o legado do cientista popular Mestre Sacaca, símbolo de sabedoria, resistência e preservação da identidade amazônica.

Com a letra de Joãozinho Gomes, a cantora amapaense Patrícia Bastos reforçou a força da obra com participação especial como intérprete convidada durante a apresentação final
As palavras de Joãozinho Gomes, em parceria com Pedro Terra, Tomaz Miranda, Paulo César Feital, Herval Neto e Igor Leal, conquistaram os 16 jurados da Mangueira. A cantora amapaense Patrícia Bastos reforçou a força da obra com participação especial como intérprete convidada durante a apresentação final. “Cumpre o enredo e transparece a verdade. Imagino o povo, em especial o povo amapaense, cantando o nosso samba e, por meio dele, sendo cantado por milhares de vozes”, destacou o poeta.
Na final, o Samba 15 superou outros três concorrentes que também traziam assinatura amapaense: os sambas 103 e 105, classificados em festival realizado em Macapá, e o samba 11, de Wendel Uchôa em parceria com compositores do Rio. Para a secretária de Cultura do Estado, Clícia Vieira Di Miceli, a presença maciça de artistas tucujus na disputa reforça a relevância da música produzida no Amapá. “Foi uma noite muito especial, com quatro grandes sambas assinados por amapaenses. Foi um show de amapalidade aqui na quadra da Verde e Rosa”, afirmou.
O governador Clécio Luís também celebrou a escolha: “A Mangueira vai fazer um carnaval incrível e vai ser campeã ao desfilar na avenida cantando a Amazônia Negra amapaense. É um momento de muita honra e orgulho para o povo do Amapá, porque a Mangueira 2026 vai fazer com que o mundo saiba mais sobre o que é esse Amapá”, disse.

Com a vitória, o Amapá terá espaço inédito no carnaval mais famoso do planeta
Com a vitória, o Amapá terá espaço inédito no carnaval mais famoso do planeta, em um desfile que deve unir tradição, poesia e identidade cultural na passarela da Marquês de Sapucaí. Acompanhe a letra do samba vencedor:
Finquei minha raiz
No extremo norte onde começa o meu país
As folhas secas me guiaram ao turé
Pintada em verde-e-rosa, jenipapo e urucum
Árvore-mulher, mangueira quase centenária
Uma nação incorporada
Herdeira quilombola, descendente Palikur
Regateando o Amazonas no transe do caxixi
Corre água, jorra a vida do Oiapoque ao Jari
Çai erê, babalaô, Mestre Sacaca
Te invoco do meio do mundo pra dentro da mata
Salve o curandeiro, doutor da floresta
Preto velho, saravá
Macera folha, casca e erva
Engarrafa a cura, vem alumiar
Defuma folha, casca e erva… saravá
Negro na marcação do marabaixo
Firma o corpo no compasso
Com ladrões e ladainhas que ecoam dos porões
Ergo e consagro o meu manto
Às bençãos do Espírito Santo e São José de Macapá
Sou gira, batuque e dançadeira (areia)
A mão de couro do amassador (areia)
Encantaria de benzedeira que a Amazônia Negra eternizou
No barro, fruto e madeira, história viva de pé
Quilombo, favela e aldeia na fé
De Yá, Benedita de Oliveira, mãe do Morro de Mangueira
Ouça o canto do uirapuru
Yá, Benedita de Oliveira, benze o Morro de Mangueira
E abençoe o jeito tucuju
A magia do meu tambor te encantou no jequitibá
Chamei o povo daqui, juntei o povo de lá
Na Estação Primeira do Amapá