Motorista que atropelou colegas de faculdade se apresenta à polícia e é liberada

Yandra Ebonnie, de 29 anos, apresentou-se acompanhada de uma equipe de advogados. Ela é investigada por tentativa de duplo homicídio.
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Por RODRIGO DIAS

A motorista Yandra Ebonnie Souza dos Santos, de 29 anos, se apresentou à Polícia Civil de Macapá nesta segunda-feira (13) para prestar depoimento sobre o atropelamento das colegas de faculdade Dayane Costa Moraes, de 19 anos, e Sthefany Ferreira, de 21. O caso ocorreu na última quinta-feira (9), na Avenida Vereador José Tupinambá, bairro do Laguinho.

Yandra, que havia fugido do local sem prestar socorro, foi ouvida pelo delegado Wenderson Braga no Ciosp do Macapaba. Ela foi liberada porque se apresentou espontaneamente, fora do período de flagrante, e não havia mandado de prisão expedido pela Justiça que obrigasse sua detenção. A motorista segue indiciada e investigada em liberdade, enquanto o inquérito apura a ocorrência de tentativa de duplo homicídio.

O caso

Flagrado por câmeras de segurança e amplamente divulgado nas redes sociais, o atropelamento transformou uma briga acadêmica em um grave caso policial. As vítimas, estudantes de Educação Física da Universidade Paulista (Unip), foram atingidas por um Nissan X-Trail branco, de placa da Guiana Francesa (FA410BB), dirigido por Yandra.

A Polícia Civil investiga o crime como tentativa de duplo homicídio, com possível motivação racista, já que as estudantes relatam histórico de perseguição e ofensas raciais.

Momento do atropelamento. Foto: Reprodução

Versão das vítimas: racismo e perseguição

Em entrevista ao portal SelesNafes.com, na sexta-feira (10), Dayane Costa Moraes afirmou que o ataque seria o desfecho de uma série de perseguições e insultos racistas sofridos dentro da faculdade. Segundo ela, Yandra a hostilizava por causa de um antigo relacionamento e, ao não ter sua atenção correspondida, passou a ofendê-la com insultos raciais, chamando-a de “preta feia” e dizendo que “pessoas negras não deviam existir”.

A amiga Sthefany Ferreira relatou que a confusão que antecedeu o atropelamento começou quando Yandra a ofendeu e cuspiu em seu rosto. As duas decidiram ir até a delegacia para registrar uma ocorrência de racismo e agressão, mas foram surpreendidas pelo carro durante o trajeto.

Vítimas dizem ter sido alvo de racismo e perseguição. Foto: Rodrigo Dias

Marcas deixadas pelo atentado. Foto: Rodrigo Dias

O impacto causou lesões múltiplas nas vítimas. Dayane, que é atleta de judô, lamentou que as sequelas físicas a impedirão de participar de competições nos próximos meses. Ambas afirmam categoricamente que o atropelamento foi intencional e uma tentativa de assassinato.

Versão da acusada: desequilíbrio emocional

No sábado (11), a defesa de Yandra — formada pelas advogadas Kelly Ferreira e Érika Furtado, e pelo advogado Rorinaldo Gonçalves — realizou uma coletiva por videochamada para apresentar a versão da motorista.

Yandra, que é mãe solo e responsável por três filhos, afirmou estar sob forte estresse e alegou sofrer ameaças constantes. Disse que não teve intenção de matar as colegas, apenas quis “dar um susto”. Ela declarou estar aliviada por saber que as vítimas estão bem e pediu desculpas públicas.

Yandra em videoconferência no fim de semana

Segundo a defesa, o estopim da briga teria sido um pedido de silêncio feito por Yandra a um professor, que teria se dirigido às colegas em sala de aula.

A motorista também negou as acusações de racismo.

“O delegado vai colher mais depoimentos para poder tomar a decisão se vai partir para tese de tentativa de homicídio ou lesão corporal. Agora é aguardar as instruções processuais. Ela (Yandra) não demonstrou em momento nenhum que tinha intenção de matar, assume toda a culpa e quer pagar na medida justa”, acrescentou Rorinaldo Gonçalves.

Defesa

Em nota de esclarecimento, a defesa afirmou que o atropelamento não foi premeditado, mas sim uma “reação impensada” resultante de um “severo desequilíbrio emocional”. O documento acrescenta que Yandra é portadora de uma doença autoimune que pode afetar o sistema neurológico, causando impulsividade e instabilidade emocional.

A nota encerra pedindo “um olhar de empatia” da sociedade e reforçando o compromisso de Yandra em colaborar com a Justiça, o que se concretizou com sua apresentação voluntária nesta segunda-feira.

Seles Nafes
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