Da REDAÇÃO
O tacacá acaba de ser reconhecido oficialmente como parte da identidade cultural do país. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) registrou o Ofício das Tacacazeiras da Região Norte como Patrimônio Cultural do Brasil, destacando um saber que atravessa gerações e sustenta milhares de famílias da Amazônia.
O reconhecimento vem de um trabalho que envolve muito mais do que a preparação de um prato típico, mas um conjunto de saberes que envolve plantio, preparo, comércio e relações comunitárias. Segundo o Iphan, “o ofício de tacacazeira não se restringe a uma receita, mas compreende um conjunto integrado de práticas agrícolas, saberes tradicionais, técnicas culinárias, modos de comercialização, formas de sociabilidade e sentidos simbólicos”.
A decisão foi acompanhada por tacacazeiras de vários estados, muitas delas responsáveis por manter vivas as tradições que aprenderam com mães e avós. Em Belém, a figura da tacacazeira aparece em registros desde o fim do século XIX. Macapá também acumula décadas de história com o tucupi, jambu, goma e camarão seco. Já em cidades mais novas, como Palmas, o ofício chegou com a migração de famílias paraenses e amapaenses.

Tacacazeiras em foco: guardiãs de um saber amazônico que agora é Patrimônio Cultural do Brasil.
Histórias de resistência também se misturam ao ofício. Em muitos casos, o tacacá surgiu como alternativa de renda em períodos de desemprego e falta de oportunidades formais. Nas feiras, mercados e praças, essas mulheres criaram filhos, netos e bisnetos com o dinheiro da cuia vendida dia após dia.
O processo para que o ofício fosse reconhecido começou há mais de uma década, com estudos sobre a mandioca e pesquisas de campo que mapearam a atuação das tacacazeiras nos sete estados do Norte. Um levantamento recente ouviu mais de 100 delas e mostrou como a tradição é transmitida dentro das famílias, e como segue viva apesar das mudanças urbanas e econômicas da região.
Com o registro concluído, o próximo passo é a criação de um Plano de Salvaguarda pensado para garantir condições de trabalho mais dignas e apoio à continuidade do ofício. Ainda de acordo com o Iphan, o plano deve incluir ações voltadas a “gestão e empreendedorismo; acesso a matérias-primas e insumos; melhoria das condições de comercialização; divulgação cultural e gastronômica; e direito à cidade”.
Embora seja uma das comidas mais emblemáticas da região, o tacacá também conquistou o interesse nacional. Chegou, inclusive, a aparecer entre as comidas mais pesquisadas do Google no Brasil após a explosão da música “voando pro Pará” da cantora Joelma. Agora, o ofício das mulheres que mantêm essa tradição passa a ocupar um lugar formal na história cultural do país.
