PF fala sobre operação que afastou delegado

As investigações apontam o envolvimento de dois policiais civis lotados em Oiapoque — o delegado Charles Corrêa e o agente Daniel Lima das Neves, ambos afastados das funções por determinação judicial.
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Por RODRIGO DIAS

A Polícia Federal (PF) do Amapá detalhou, em coletiva realizada na tarde desta quinta-feira (4), os resultados da Operação “Cartucho de Midas”, deflagrada nas primeiras horas do dia para desarticular uma organização criminosa especializada em contrabando de ouro e lavagem de dinheiro.

As investigações apontam o envolvimento de dois policiais civis lotados em Oiapoque — o delegado Charles Corrêa e o agente Daniel Lima das Neves — ambos afastados das funções por determinação judicial. A dupla é suspeita de atuar diretamente na cadeia de obtenção e revenda ilegal de ouro.

Charles Corrêa, que disputou as últimas eleições para a prefeitura de Oiapoque pelo PSB e obteve 1.110 votos, também teve o celular apreendido no aeroporto do Rio de Janeiro, quando embarcava para Macapá. Em nota de esclarecimento, a defesa do delegado, feita pelo advogado Fernando Segato, afirmou que ele não participou, não teve ciência e jamais compactuou com qualquer ação ilícita mencionada na operação deflagrada no Amapá. “Com mais de 15 anos de atuação no combate ao crime organizado na fronteira, o delegado construiu uma trajetória marcada por ética, coragem e respeito à lei, sem que haja até o momento qualquer prova que o vincule ao esquema investigado”, traz a nota.

Ainda segundo a defesa, o afastamento cautelar é apenas uma medida administrativa padrão, que não indica culpa e não deve alimentar especulações. O advogado também ressaltou que Charles Corrêa sempre atuou na linha de frente contra a criminalidade e muitas vezes “colocando a própria vida em risco”. A expectativa é de que, no decorrer da investigação, a inocência de Charles Corrêa seja plenamente confirmada.

Dinheiro e joias em ouro foram apreendidos. Foto: Ascom/PF

Superintendente da PF no Amapá, Milton Neves, explicou que o grupo utilizava um posto de combustíveis como peça central na lavagem de dinheiro. Fotos: Rodrigo Dias

Durante a coletiva, o superintendente da PF no Amapá, Milton Neves, explicou que o grupo utilizava um posto de combustíveis como peça central na lavagem de dinheiro.

“A Operação Cartucho de Midas busca avançar na investigação de uma organização criminosa que praticava lavagem de dinheiro, corrupção passiva, peculato e outros crimes. Um posto de gasolina recebia dinheiro de joalherias e repassava a um dos investigados, que obtinha ouro de forma ilícita e redistribuía às mesmas joalherias”, afirmou.

Segundo ele, o posto faturava entre R$ 15 mil e R$ 20 mil por mês, mas movimentou cerca de R$ 17 milhões em menos de cinco anos — um indicativo, de acordo com o superintendente, da engrenagem de lavagem de capitais.

Quanto à participação dos dois policiais civis, Neves afirmou que ambos teriam usado o cargo para obter ouro ligado a investigações em andamento e revendê-lo a joalherias de diferentes estados.

“Eles praticavam peculato ao pegar ouro de investigações ou aceitar ofertas de investigados. Esse ouro era revendido a diversas joalherias. Um dos servidores, inclusive, estava construindo uma balsa garimpeira em seu terreno”, relatou.

Os agentes cumpriram mandados de busca e …

… medidas judiciais para avançar na identificação dos envolvidos no grupo criminoso. Fotos: Ascom/PF

Neves não confirmou oficialmente os cargos, alegando normas de comunicação institucional, mas reforçou que se tratam de servidores públicos que “utilizavam suas funções para a prática dos delitos”.

A operação investiga crimes cometidos desde 2018. Apenas os dois policiais já teriam movimentado mais de R$ 4 milhões. Ao todo, foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão em Macapá, Oiapoque e Rio de Janeiro.

Entre os materiais apreendidos estão:
• mais de R$ 1 milhão em espécie;
• 25 mil euros;
• ouro e joias;
• uma arma de uso restrito sem documentação, que levou um dos investigados à prisão em flagrante.

Os policiais também estão proibidos judicialmente de visitar unidades da Polícia Civil e de se aproximarem um do outro.

O delegado-geral da Polícia Civil do Amapá, Daniel Marsili, participou da coletiva e afirmou que a instituição está colaborando com a PF.

“De pronto nos colocamos à disposição para acompanhar as diligências. As atitudes desses policiais não resumem o trabalho da instituição”, declarou.

Delegado-geral da Polícia Civil do Amapá, Daniel Marsili

Marsili informou ainda que a Corregedoria da Polícia Civil abrirá procedimento administrativo para apurar internamente a conduta dos servidores.

“Não coadunamos com qualquer prática ilícita. Será apurado com firmeza e na profundidade que o caso exige”, concluiu.

A PF afirmou que segue com as diligências para identificar outros possíveis envolvidos e detalhar todos os valores movimentados pela organização criminosa.

Seles Nafes
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