Por RODRIGO DIAS
O que começou como o sonho de representar o município de Porto Grande no Miss Amapá 2025 transformou-se em um caso de polícia e em denúncias graves de violação de direitos. Nesta terça-feira (23), a estudante de farmácia Sarah Cristhiny Pinto de Oliveira, de 19 anos, falou oficialmente sobre o tumulto ocorrido durante a final do concurso, realizada no último domingo (21).
Em um relato contundente, a jovem rebateu declarações do organizador Alexandro Lima e revelou bastidores do período de confinamento, que, segundo ela, envolveram ameaças, extorsão financeira e abusos psicológicos.

“Eu vivi um inferno lá dentro. Rezava todas as noites para sair”. Fotos: Divulgação
“Cativeiro” e taxas abusivas
De acordo com Sarah, a participação no concurso exigiu um investimento inicial de R$ 3.500, valor que deveria cobrir despesas com estadia e alimentação. No entanto, ao tentar deixar o hotel em razão do tratamento recebido, ela afirma que foi impedida pela organização.
“Eu vivi um inferno lá dentro. Rezava todas as noites para sair. Não podia ir embora porque exigiam o pagamento de R$ 5 mil para desistir. De onde eu tiraria esse valor?”, questionou.
A estudante também relatou a existência de uma cláusula contratual que previa multa de R$ 10 mil caso as candidatas revelassem o que ocorria nos bastidores do concurso. Segundo ela, os celulares eram recolhidos pela organização para impedir registros das situações vividas durante o confinamento.
Denúncias de maus-tratos e gordofobia
Em contraposição à versão apresentada pela organização – que atribuiu o desempenho da candidata à falta de disciplina e má alimentação – Sarah afirma ter sido submetida a violência psicológica constante.
Ofensas verbais: a candidata relata ter sido chamada de “gorda”, “feia” e “idiota” por coordenadores do concurso.
Punições físicas: segundo o relato, as misses eram obrigadas a permanecer por até três horas em pé, usando salto alto, como forma de castigo.
Privação alimentar: a estudante nega ter descumprido dieta por indisciplina e afirma que houve restrição de alimentação.

“Não podia ir embora porque exigiam o pagamento de R$ 5 mil para desistir”
“Passamos fome. Almoçamos apenas duas vezes durante todo o período e jantamos só uma vez, quando houve patrocínio. Tenho gastrite por H. pylori e posso provar que não consumi o que estão colocando na minha conta do hotel”, afirmou.
Confusão após a final
Sobre o episódio de violência envolvendo familiares e o organizador do concurso, Sarah esclareceu que o conflito não teve relação com sua exclusão do Top 5, mas com o acúmulo de situações de humilhação que teriam sido descobertas pelos pais após o encerramento do evento.

Candidata relata ter sido chamada de “gorda”, “feia” e “idiota” por coordenadores do concurso
“A confusão não foi pela colocação. Eu reconheço que não estava preparada, fui pela experiência e as outras meninas mereceram. Foi pela humilhação. Fomos tratadas como lixo, chamadas apenas de ‘produtos de divulgação’”, desabafou.
A jovem afirmou ainda que, no momento do confronto, já estava dentro do carro e não presenciou o início das agressões.
O outro lado
Em declarações anteriores, o organizador Alexandro Lima afirmou que a reação da família da candidata teria sido motivada por frustração. Segundo ele, Sarah obteve uma das piores notas em oratória e disciplina, mencionando o consumo de “batata frita e sorvete” como indicativo de falta de comprometimento. Após o tumulto, Lima registrou um boletim de ocorrência, alegando ter sido derrubado durante a confusão.

“Passamos fome. Almoçamos apenas duas vezes durante todo o período e jantamos só uma vez, quando houve patrocínio”
Próximos passos
Sarah Cristhiny informou que pretende apresentar às autoridades competentes as provas que possui, incluindo o contrato firmado com a organização e laudos médicos, para apuração dos fatos.
