CÁSSIA LIMA –
Nesta quarta-feira, 25, a partir das 9h, a Câmara de Vereadores de Macapá vai promover uma audiência pública para discutir sobre os casos de crianças com câncer no Estado. O principal palestrante será o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope), Renato Melaragno. Ele é médico do Hospital Santa Marcelina, que fica em São Paulo, e cuidou do pequeno Carlos Daniel, que faleceu em abril.
De acordo com a Sodope, dez mil crianças e adolescentes acima de quatro anos morrem de câncer anualmente no Brasil. Atualmente, cerca de 40 crianças do Amapá fazem tratamento no Santa Marcelina, mas segundo dados oficiais do Governo Federal o Amapá não possui pacientes com câncer.
Melaragno tem 30 anos de experiência de oncologia e já chegou a cuidar de até 83 crianças amapaenses em São Paulo. Em uma conversa rápida com o site SelesNafes.Com ele falou das dificuldades, índices e como o Estado pode melhorar o atendimento a pacientes com câncer.
Por que tantos casos de câncer entre crianças no Amapá?
Aparentemente esse é um número compatível com a população do Estado. Mas o problema é que o Estado tem poucos dados sobre a doença. Se você olhar para as estatísticas federais não existem pacientes com câncer no Amapá, mas isso não é verdade.
Quais são os casos mais comuns de câncer infantil?
A leucemia, sem dúvida. Quase 80% das crianças que saem do Amapá para São Paulo têm leucemia aguda. A maioria tem de 1 a 8 anos. Metade dos pacientes são meninos, mas é um índice nacional considerado normal.
Como o senhor avalia o tratamento no Amapá?
Não tem como avaliar, porque aqui não tem tratamento nenhum. No resto do Brasil existem serviços de excelência que acolhem tratam e até curam, mas, infelizmente, essa não é uma realidade local.
Como prevenir o câncer?
O câncer pediátrico não pode ser prevenido. Tem que existir o diagnóstico precoce. Isso deve ser feito na assistência básica de saúde com os exames de rotinas.
Faça uma análise das crianças amapaenses que chegam ao Santa Marcelina.
Elas chegam bastante sofridas, com um histórico grave. No geral, elas chegam clinicamente muito doentes e debilitadas sem o cuidado mínimo.
O senhor tratou do pequeno Carlos Daniel, qual era a situação dele?
Bom, ele já era um caso grave que teve uma evolução conturbada. Ele tinha leucemia grave e de alto risco que foi agravada por complicações infecciosas que nos surpreenderam. A gente não esperava que o estado dele ainda poderia piorar e infelizmente acabamos perdendo ele.
Existem muitos casos clínicos como o do Daniel?
Sim, infelizmente tem bastante. Principalmente por falta dessa assistência básica.
Como melhorar isso no Amapá?
Na minha concepção deveria ter uma parceria para que os casos mais graves fossem tratados fora do Estado. Já os casos sem muitos agravantes fossem tratados em um centro de referência no Amapá, porque montar uma estrutura de oncologia pediátrica é muito caro. Por isso penso que a parceria é a melhor escolha. Isso também diminui os gastos com TFD.