SELES NAFES
Carnaval é época dos tradicionais retiros espirituais. Fieis do Templo Central da Igreja Adventista do Sétimo Dia no Amapá escolheram as margens do Rio Araguari para estudar, orar, mas também para relaxar com atividades recreativas em um acampamento.
O lugar escolhido foi o Recanto Família Bianchi, lugar com ótima infraestrutura para receber visitantes no município de Ferreira Gomes, que o Site SELESNAFES.COM estará mostrando no próximo fim de semana como dica de passeio.
No retiro, conversei com o pastor Assad Bechara, um dos palestrantes convidados. Neste Carnaval, ele deixou São Paulo com alguns amigos e a esposa, Najla Bechara, bancando os próprios custos de viagem só para estar no Amapá participando do retiro, onde falou sobre valores familiares e o papel da mulher.
Dono de uma saúde e disposição física invejáveis aos 82 anos (parece que tem no máximo 60), o pastor de origem libanesa faz um trabalho humanitário com refugiados da guerra da Síria, tem livros publicados sobre as mulheres da Bíblia e é membro da Academia Brasileira de Letras da Igreja Adventista.
Numa rápida conversa, Assad revela o que pensa sobre a mulher, a “modernização” das igrejas, a relação de amizade entre cristãos e muçulmanos e a salvação de membros de várias religiões no Dia do Juízo, descrito na Bíblia como o Apocalipse.
SELESNAFES.COM: Qual a sua origem?
Pastor Assad Bechara: Sou neto de sírios e libaneses. Meus avós vieram para o Brasil fugindo da opressão religiosa do império otomano-turco, que era baseado no islamismo. Agora os sírios estão saindo daquele ambiente de guerra e estamos acolhendo os islâmicos sem discriminá-los. Temos uma casa de oração em São Paulo, na Vila Mariana, que está socorrendo 35 famílias de refugiados, alguns até ilustres. Um deles era juiz de causas de petróleo que hoje abriu uma cozinha árabe com produtos muito bem feitos.
Tem um químico industrial que está fabricando sabão, detergentes….pagamos aluguel para quatro famílias e estamos ajudando com roupas, móveis, compras no Ceasa (Central de Abastecimento de Alimentos). Eles perguntam por que nós, cristãos, estamos fazendo isso por eles. Nem precisamos responder. Eles percebem o nosso amor. Esse juiz até escreveu uma frase que reflete esse reconhecimento: sou islâmico, mas amo a Jesus!
Não obrigamos ninguém a guardar o sábado, a seguir a doutrina que seguimos. Apenas convidamos para ir aos cultos, se quiserem. Nos cultos até recitamos algumas passagens do Alcorão (livro sagrado do Islã). As suratas, que são os capítulos do Alcorão, exaltam o Criador do Universo. Nós recitamos e eles (mulçumanos) se sentem bem. Temos até ícones islâmicos na nossa casa de oração que ajudam na acolhida.
O senhor é de uma família de comerciantes?
Os sírios vivem como mascates, mas no nosso caso fizeram os filhos estudar. Tive um tio médico, meu pai era odontólogo. Eu fui professor de comunicação social na Universidade Adventista, sou jornalista e fiz teologia. Já sou pastor jubilado (aposentado), mas não gosto muito dessa expressão. Gosto de trabalhar, sair, conversar, ajudar; fiz psicologia pastoral pra atender pessoas carentes, em depressão….
As igrejas mais ortodoxas parecem que ficaram mais liberais, mais condescendentes até certo ponto, para se adaptar aos tempos atuais. O senhor acha que a Igreja Adventista está seguindo essa mesma linha?
Está sim. As denominações religiosas, no começo, são pequenas, e com o passar do tempo vão evoluindo. Nos primeiros 100 anos de uma igreja ortodoxa a coerção funciona, mas com o passar do tempo os líderes vão sendo mais flexíveis porque se não os fieis não conseguem acompanhar.
O senhor acredita que no Dia do Julgamento haverá crentes, católicos e membros de outras religiões que também serão salvos?
Acredito nisso. Deus não trabalha com grupos setoriais. A essência dos Evangelhos é essa: aceitar Jesus como seu salvador.
Qual a importância desses retiros nessa época de Carnaval?
É a quebra da rotina de uma vida trepidante. A correnteza dos rios, a mata, a natureza, tudo isso fala pra você. E também o aspecto da sociabilidade. Você troca ideias, acaba aprendendo. É muito saudável.
Como o senhor vê outros segmentos da religião cristã que estão fazendo as igrejas serem cada vez mais parecidas em comportamento?
Isso é uma tendência na medida em que as pessoas vão estudando. Elas estão concluindo que não compensa mais ficar criticando uns aos outros. Vão chegando a um denominador mais comum. A religiosidade faz parte da natureza humana, e há uma tendência muito forte de deixar o superficial para buscar o essencial. O mais importante é compreender o amor de Deus e saber que Ele tem promessas boas para nós, sem discriminar ninguém e nem discriminar setores religiosos. Deus ama todos sem exceção.
Qual foi o papel da mulher no período que é narrado pela Bíblia?
Deus fez esse mundo perfeito, e tenciona torná-lo perfeito outra vez. Deus pretende restaurar. O pecado entrou através da mulher porque o anjo ímpio (Diabo) viu na mulher essa sensibilidade, a curiosidade, aquela coisa da mulher de olhar vitrines em busca de algo sempre melhor, mais confortável. A mulher quis o bem, mas nisso ela desconfiou de Deus. E a desconfiança trouxe o pecado e o domínio do anjo ímpio.
A mulher tem características especiais. Toda a vez é a mulher que mais se volta para os valores permanentes da família, para a assistência social. Ela tem um papel importantíssimo. Na Bíblia você vê Deus protegendo a mulher da coerção violenta do homem, das ofensas.