SELES NAFES
Há exatamente um ano, o pequeno Carlos Daniel, de apenas 7 anos, perdia a luta contra a leucemia. Ligado a aparelhos na UTI do Hospital Santa Marcelina, em São Paulo, ele ainda conseguiu se despedir do pai, Agenilson Pereira, o grande companheiro da curta vida. Cerca de 24h antes daquele dia 21, o menino tinha sobrevivido a uma parada cardíaca, mas não resistiu à segunda.
Carlos Daniel estava em São Paulo fazendo quimioterapia desde setembro de 2014, quando houve o diagnóstico da doença. O pai, que criava o menino sozinho após a separação da esposa, mudou-se para SP para acompanhar todo o tratamento, e fazia uma ‘ponte aérea’ permanente com o Amapá em busca do apoio financeiro do Programa de Tratamento Fora do Domicílio (TFD), da Secretaria de Saúde do Amapá (Sesa). Foram muitos momentos de desespero.
Além disso, Agenilson teve que ser mais pai do que nunca, sempre procurando incentivar o filho a não desanimar com o isolamento no hospital, a distância de casa e as sequelas fortes do tratamento agressivo da quimioterapia.
Os poderosos medicamentos causavam sérios danos nas veias, órgãos e praticamente destruíram a defesa imunológica da criança. Até o rosto de Carlos ficava desfigurado pelo inchaço ao fim de cada sessão. O clima era de tristeza profunda, mas Agenilson tentava manter a alegria do filho.
O pai alugou um apartamento em São Paulo para ficar com o menino nos intervalos das sessões, onde Carlos podia ser criança e jogar vídeo game.
O menino morreu às 16hs do dia 21 de abril de 2015. O cortejo até o cemitério, em Macapá, foi feito em um caminhão do Corpo de Bombeiros debaixo de muitas homenagens. Nesta sexa-feira, 21, o pai homenageou o filho com um emocionante vídeo em seu perfil no Facebook. No final do vídeo há um depoimento de Carlos Daniel. Veja o vídeo.
ONG
Carlos Daniel virou de vez um símbolo por melhores condições de tratamento na rede pública do Amapá, mas depois de 1 ano nada mudou, diz o pai.
“Não mudou nada na estrutura, mas a Secretaria de Saúde do Estado abriu as portas para mantermos diálogo. Tive uma reunião no Hemoap que foi bem produtiva. Dia 2 de maio irei para São Paulo onde vou participar da corrida do Graac, e vou fazer uma parceria para encaminharmos nossos pacientes para lá. E fui convidado pelo Hospital Darcy Ribeiro que tem um paciente nosso lá, o Arthur. Com aval da Sesa, estamos tentando abrir mais 3 portas (hospitais) para receber pacientes do Amapá, para não enviar apenas pacientes para o Santa Marcelina”, comentou.
Agenilson decidiu criar a ONG Carlos Daniel, entidade dedicada a encaminhar pacientes para tratamento fora do Amapá com modesto suporte e orientações. O apartamento onde Carlos viveu seus últimos dias virou uma espécie de casa de apoio para outras crianças do Amapá em tratamento em SP.
O aluguel é pago pela ONG, graças a algumas doações. Até um taxista, que se tornou parceiro do projeto, leva de graça as crianças e os pais para o tratamento no Santa Marcelina.
“A minha dor virou luta. No fim do vídeo (em homenagem a Carlos) tem a citação: ama o próximo como a ti mesmo. E eu aprendi a fazer isso. A minha vida agora é ajudar crianças na mesma situação que Carlos. Hoje temos duas crianças e seus pais vivendo no apartamento. Nosso sonho é ter uma casa de apoio em Macapá para receber as crianças”, explica Agenilson.
No dia 1º de novembro do ano passado, a entidade realizou a 1º Corrida Pela Vida. A competição reuniu mais de 1 mil corredores, e já entrou para o calendário de atletismo do Amapá.
“A corrida será sempre em novembro. Além de ser o novembro azul, é o novembro dourado, porque no dia 23 de novembro é o Dia Mundial de Combate ao Câncer Infantil”, justificou.
Dezenas de outras crianças do Amapá vivem hoje a mesma angústia de Carlos Daniel, muitas, assim como ele, já viraram anjos.