Oito de abril é o Dia Nacional do Sistema Braille, uma homenagem ao nascimento de José Álvares de Azevedo, o primeiro professor de braile do país. A data foi oficializada desde junho de 2010, por meio da lei Nº 12.266/10. No Amapá, deficientes visuais enfrentam dificuldades de acesso, especialmente em transporte e educação, sem falar do preconceito. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 23,7% dos amapaenses possuem algum tipo de deficiência visual.
Braille é um sistema de escrita e leitura baseado na percepção pelo tato para pessoas com deficiência visual, inventado por Louis Braille em 1827, em Paris. No estado, a data foi comemorada na manhã desta terça-feira, na Praça da Bandeira, com uma ação do Centro de Apoio Pedagógico do Deficiente Visual (CAP-AP). Populares foram convidados a participar de uma experiência que simulava atividades do cotidiano sem enxergar.
Na opinião da diretora do centro, Zenaide Picanço, as escolas do estado estão preparadas para atender deficientes de todos os graus. “A maioria das escolas estaduais tem salas equipadas para atender todos os alunos com deficiência visual, professores preparados e especializados e materiais adaptados”, afirmou.
Mas a realidade não é bem essa. Antônio Carlos, de 59 anos, conta que desde criança é vítima de preconceito e falta de estrutura. “Eu fiquei 13 anos da minha infância e adolescência preso dentro de casa porque não tinha professores especializados e até os próprios médicos que me atendiam tinham preconceito”. Hoje ele é técnico em massoterapia, além de ser formado em história. Muito do sucesso que acumula atualmente é esforço dele e da família. “Eu fiz vestibular cinco vezes até passar. Minha família me ajudou muito nesse processo de adaptação e aceitação. Já no ensino superior que tive uma estrutura melhor de professores e equipamentos”, relatou.
De acordo com o CAP, no estado cerca de 100 mil pessoas possuem algum tipo de deficiência visual, seja parcial, visão baixa e com 100% de cegueira. Neste último caso, os cegos precisam contar com amigos e familiares na locomoção e no ensino aprendizado. “O estado hoje não está preparado para atender aos deficientes, precisa de muitos recursos. As calçadas não têm rampas, as ruas não tem meio fio, os ônibus não tem estrutura para deficientes. Na verdade a sociedade é preparada para pessoas normais e não com deficiência. Eu tive a oportunidade de ter professores que me ensinaram o braile, mas a maioria nem por escola passa”, desabafou Romário da Silva Feio, de 19 anos.
Para quem perdeu a visão depois de um dia ter enxergado, o esporte pode ser um meio de aceitação na nova realidade. A Associação Amapaense de Esporte de Pessoas com Deficiência Visual possui mais de 30 atletas que participam de campeonatos em todo o país. “Foi horrível no inicio. Eu entrei em depressão, não aceitava minha condição. Passei sete anos em casa trancado até que conheci o esporte é minha vida mudou. Hoje moro sozinho e me considero uma pessoa normal, minha mãe me preparou para ter o mínimo de independência”, disse Alessandro Brito, de 26 anos, que perdeu a visão há sete anos em função de uma catarata congênita.
Graça Lopes, de 45 anos, técnica administrativa do Instituto Federal do Amapá (Ifap), perdeu a visão há 15 anos por causa de um deslocamento de retina seguido de glaucoma. Segundo ela, as dificuldades são enormes. “O desafio maior é você ganhar autonomia. Você não pode sair só. Quando vai ao hospital tem que ter alguém da família, parece que você é incapaz, é assim que a sociedade te vê. Mas eu sou um exemplo que podemos mais, passei em concurso público e hoje leciono no Ifap. Mas mesmo independente financeiramente, sinto muita dificuldade de locomoção”, revelou.
Os professores confirmam que a rede pública é carente. O grande ganho foi a tecnologia, fundamental nesse processo de ensino-aprendizagem. “A tecnologia é uma grande aliada, programas como o vox, dovox e o próprio sistema do google transformam textos em sons e isso auxilia nosso trabalho, além de facilitar o acesso a informação a esses deficientes”, explicou a deficiente visual e professora, Marcinete Moreira.