CÁSSIA LIMA
Ocupantes da área que compreende a Norte/Sul encheram as galerias da Assembleia Legislativa do Amapá (Alap) na manhã desta segunda-feira, 13, em audiência pública para discutir o assunto. As famílias querem que os deputados ajudem a intermediar um acordo que signifique a permanência delas no lugar, e algumas ameaçam invadir o Macapaba e o Mestre Oscar. Hoje era o prazo final dado pela Justiça Federal para desocupação do local.
A audiência pública foi proposta pela deputada estadual Luciana Gurgel (PMB) que junto com o deputado Pedro da Lua (PSC) acompanham a ocupação do espaço desde 16 de novembro de 2015. Segundo informações dos moradores, a ocupação passou de 250 famílias no início para mais de 3 mil, mas esse número não é confirmado pelas autoridades. A invasão foi batizada de Nova Jerusalém.
“Eu estou lá com o primeiro grupo de ocupantes. Morava de favor na casa de parentes e hoje precisamos que o espaço seja liberado para que possamos com dignidade ficar nele. Se caso a deputada não conseguir reverter a situação, nosso plano B é ocupar casas e apartamentos vazios no Macapaba e no Oscar Santos”, revelou Walace Natam, de 28 anos, que mora na invasão.
A ideia da audiência é promover uma tentativa de conciliação. A área pertence à Infraero. A deputada convidou para a audiência o juiz federal João Bosco Soares, que determinou a desocupação, mas ele está viajando. O Instituto de Meio Ambiente e Ordenamento Territorial (Imap) e a Secretaria de Transportes do Amapá (Setrap) não enviaram representantes para a audiência.
“Vamos lutar para que essas famílias fiquem naquele lugar ou, pelo menos, sejam realocadas para os próximos conjuntos habitacionais. Vamos fazer um levantamento de quem de fato não tem casa e depois encaminhar tudo para o Ministério Público”, disse a deputada.
De acordo com a comissão de moradores da Nova Jerusalém, o espaço ocupado tem mais de 400 metros quadrados e já foi dividido em blocos pelos ocupantes. Uma dessas quadras é ocupada por 10 famílias indígenas das tribos Wayana e Apalai, que antes moravam no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque.
“Os índios não têm casa, não tem educação, e precisam ter moradia. Saíram de suas aldeias porque a educação é até a quinta série. Hoje eles moram em barracos com dificuldade, mas tem o lugar deles e já estudam. Nossa pauta é simples, nos deem a área”, pediu Nubiane Pereira, de 32 anos, membro da comissão.
Luciana Gurgel e Pedro da Lua se comprometeram a formar um grupo de trabalho que também dará apoio jurídico às famílias.