A pororoca de Jacques Cousteau

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Pororoca. Foto: Márcia Carmo

Pororoca. (Foto: Márcia Carmo)

Descendo o rio Araguari

Era um inicio de março chuvoso de 1982. A missão: filmar a maior pororoca do planeta na Foz do Rio Araguari, no Amapá e registrar os bastidores da expedição do oceanógrafo, mergulhador, cineasta e inventor francês, Jacques-Yves Cousteau que estava na região fazendo um documentário e pesquisas sobre a Amazônia.

Dividimos a nossa aventura com uma equipe da Rede Globo que faria uma cobertura para o Fantástico.

Saímos de Macapá a bordo de um monomotor pilotado pelo comandante João Munguba.

Não havia pista de pouso na região do Araguari e o jeito foi descer no campo de uma fazendo de búfalos, o que exigiu muita perícia, coragem do piloto e muita expectativa de nossa parte.

O próximo passo foi uma viagem de barco com a duração prevista de 10 horas até a foz do rio Araguari.

Rio Araguari. Foto: Márcia Carmo

Rio Araguari. (Foto: Márcia Carmo)

O Araguari é um rio importante da bacia amazônica. Ao invés do rio Amazonas, sua foz desagua no Oceano Atlântico. Chegou a ser “confundido” com o rio Oiapoque pelos franceses e gerou um litigio entre o Brasil e a França. Eles alegavam que do Araguari para o norte era território francês. Mas o Barão do Rio Branco ganhou a questão no tribunal de Berna na Suíça e a região, rica em minério, voltou a pertencer ao Brasil.

O rio Araguari nasce nas montanhas do Tumucumaque e cruza boa parte do estado do Amapá, de leste para oeste. Ao longo do percurso, possui 36 cachoeiras, atravessa fazendas e paraísos ecológicos.

Guarás. Foto: Márcia Carmo

Guarás. Foto: Márcia Carmo

Na foz do rio Araguari com o mar é que nasce a Pororoca.

Redes de TV do Brasil e do Japão e o espetáculo das ondas gigantes

Viajamos de noite, mas logo a chuva intensa e o anuncio de uma pororoca nos obrigou a encostar o barco.

Rio Araguari. (Foto: Márcia Carmo)

Rio Araguari. (Foto: Márcia Carmo)

 Nos alojamos numa grande casa ribeirinha.

Fomos acordados por uma equipe de televisão do Japão que chegou no meio da madrugada. Embora tivessem reservado o local com um ano de antecedência concordaram em dividir com a gente o único abrigo possível naquela noite de chuva intensa.

A equipe era da TV Asahi, comandada pelo diretor David Okomura que faria um programa com uma hora de duração sobre a pororoca.

Pela manhã todos estavam a postos para assistir a primeira pororoca do dia.

Eu só tinha visto a pororoca pela televisão no programa Amaral Neto, o Repórter, da Rede Globo, em 1968. Mas ao vivo e a cores, como se dizia na época, era a primeira vez. É um espetáculo impressionante.

A palavra pororoca é de origem indígena e expressa o barulho produzido pelo fenômeno do encontro das águas do rio com as do oceano Atlântico. O choque é particularmente violento especialmente nos meses de março, abril, agosto e setembro. Na primeira fase do encontro, as águas do Araguari penetram por vários quilômetros dentro do oceano. Em seguida, a maré empurra o rio de volta na direção de seu curso e este se expande pela terra ao redor, inundando toda a região, inclusive praias e as ilhas mais rasas. Dessa forma, o rio é então impedido de despejar suas águas no oceano, ao mesmo tempo em que faz pressão para impedir a força do mar contra seu percursos. A certa altura essa disputa se encerra e a força da maré penetra no estuário do rio. As ondas crescem a uma altura de 3 a 4 metros, com ruídos que podem ser ouvidos a vários quilômetros de distância. Esse espetáculo natural pode ser observado em vários pontos do estuário do rio Amazonas, mas sua performance mais impressionante ocorre no rio Araguari.

Pororoca. (Foto: Márcia Carmo)

Pororoca. (Foto: Márcia Carmo)

A pororoca prenuncia a enchente. Alguns minutos antes de chegar, há uma calmaria, um momento de silêncio. As aves se aquietam e até o vento parece parar de “soprar”. É ela que se aproxima. Os caboclos já sabem e rapidamente procuram um lugar seguro como enseadas ou mesmo os pontos mais profundos dos rios para aportar suas embarcações seguras de qualquer dano, pois a canoa que estiver na “baixa-mar”, onde ela bate furiosa e barulhenta, levando árvores das margens, abrindo furos, arranca, vira e leva consigo.

Walter Júnior

Seles Nafes
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