Não é preciso chegar muito perto para sentir o mau cheiro que exala do lixo acumulado em uma residência no Bairro Santa Inês, Zona Sul de Macapá. Os vizinhos reclamam não só do mau cheiro, mas também de insetos e ratos que invadem os quintais próximos. Mas para o proprietário da casa, Francisco dos Santos, de 57 anos, tudo não passa de material reciclável.
Francisco afirma que trabalha com a venda de material reciclável. “As pessoas falam que isso é lixo, mas na verdade tudo aqui é material usado para ser reciclado. Daqui tiro metais e plástico para vender e sobreviver. Mas as pessoas não entendem”, contou.
Os vizinhos não quiseram se identificar, mas disseram que até carne estragada há no local, e que a quantidade de lixo dentro da casa ainda é maior que na parte externa. “Só para se ter uma ideia, ele pouco entra em casa. Fica apenas sentado aí na frente. E quando quer dormir vai para a praça que fica em frente à casa”, contou uma moradora.
Segundo os vizinhos, há mais de dez anos Francisco acumula lixo em casa e a mãe dele tinha que conviver com isso. “Há pouco mais de um mês a mãe do Francisco morreu e agora ele fica sozinho com cachorros e gatos, que até ajudam acumular o lixo. Qualquer sacola que deixamos na rua, os animais carregam para dentro da residência”, contou outro morador.
Os vizinhos de Francisco contaram que a Prefeitura faz a limpeza da área externa, mas como não tem autorização do proprietário não há como fazer a limpeza na parte interna. Para Francisco, ver a Prefeitura levar o lixo é uma tristeza. Ele diz que está sendo vítima de perseguição. “Eu moro aqui há dez anos, mas parece que este ano eles resolveram acabar com o meu sustento. Só quem olha por mim é minha filha, que vem e deixa comida”, acrescentou o acumulador.
Além da filha, Francisco tem irmãos que, de acordo com os vizinhos, até tentam tirar ele dessa vida, mas não conseguiram e acabaram desistindo. “Nós tentamos conversar, mas ele tem problemas psiquiátricos e ameaça quem for falar sobre o lixo acumulado”, concluiu um vizinho de Francisco.
O acumulador geralmente é diagnosticado pelos psiquiatras como portador de transtorno obsessão. Há cerca de 8 anos, no conjunto Cabralzinho, Zona Oeste da Capital, uma ex-telefonista da Teleamapá teve retirados de sua casa pela prefeitura quase duas toneladas de lixo que ela também dizia ser material reciclável.