SELES NAFES
Quem passa com frequência pela orla de Macapá já deve ter visto a cena. No horizonte, em pleno Rio Amazonas, navios cargueiros fazem fila, fundeados.
O que muita gente não sabe é que pouquíssimos deles, de fato, vão atracar no Estado. A maioria segue caminho para outros portos na região amazônica, especialmente Santarém (PA), Manaus e Itacoatiara (ambos no Estado do Amazonas).
Apesar de estarem “estacionados” no Rio Amazonas de frente para a cidade de Macapá, na verdade eles estão dentro da área poligonal do Porto de Santana, administrado pela Companhia Docas de Santana.
A cada 10 navios, estima-se que apenas um irá atracar no Porto de Santana para ser carregado com cavaco de madeira da Amcel, o único produto da pauta de exportação do Amapá ainda em plena atividade. Desde que o Porto da Zamin desabou em 2014, matando seis operários, o embarque de minério está comprometido.
O restante dos navios que passa pela frente de Macapá segue viagem levando componentes eletrônicos para a Zona Franca de Manaus, e às vezes para levar ou buscar grãos de soja e milho. Um dos destinos desses alimentos é Itacoatiara, onde fica o complexo da Maggi, famosa indústria de alimentos de preparo rápido.
A safra de grãos é um dos motivos do aumento no fluxo de navios. O portal SELESNAFES.COM não conseguiu apurar a atual quantidade de navios, mas na baixa temporada de grãos, no ano passado, a média era de 12 cargueiros por dia.
“Mas muitos também estão levando combustíveis, porque desde setembro do ano passado a Petrobrás sinalizou para os distribuidores que ela iria reduzir a entrega para a Região Norte para baixar custos. Então a importação por outras empresas passou a ser muito grande. A demanda por combustível na região é de 1,3 milhão de metros cúbicos por mês, e cada navio desse tem capacidade para pouco mais de 40 mil metros cúbicos”, explica o ex-presidente do Conselho da Companhia Docas de Santana, Alberto Góes.
Espera na poligonal do Rio Amazonas tem várias razões. Por exemplo: é necessário esperar as autoridades de fiscalização fazerem cada um o seu trabalho. Isso inclui Anvisa, Polícia Federal e a Marinha, por meio da Capitania dos Portos.
À Marinha, por exemplo, cabe fiscalizar a embarcação e seus equipamentos.
“Se detectamos problemas com o radar, por exemplo, então o navio tem que ficar naquela área para que ele faça o reparo para só depois seguir viagem”, informou o tenente Fabiano Crespo, da Gerência de Segurança e Tráfego Aquaviário da Marinha.
Outro fator que gera a espera é a liberação de vagas nos portos de destino. As empresas precisam calcular o tempo exato entre a saída do fundeadouro no Rio Amazonas e a chegada no momento em que exista espaço nos berços de atracação. A fórmula é complexa.
Além disso, ainda é necessário esperar a chegada dos práticos, profissionais que conhecem a região e guiam as embarcações com seguranças por meio dos canais.
Uma empresa de praticagem chega a ganhar R$ 15 mil por uma manobra. Dependendo do porte do navio e do destino, o custo com praticagem numa viagem de ida e volta na região pode chegar a custar perto de R$ 1 milhão.