JÚLIO MIRAGAIA
Na próxima sexta-feira (28) as principais centrais sindicais brasileiras comandam uma greve geral contra os projetos de reforma da previdência e reforma trabalhista do governo Michel Temer (PMDB).
Diversas e importantes categorias anunciaram paralisações, como metroviários, metalúrgicos, rodoviários, servidores públicos, segmentos da iniciativa privada, dentre outros. Desde 1996 nosso país não tem uma greve geral, portanto, é um momento histórico. A maior greve geral da história recente foi em 1989, onde, segundo registros da época, quase 70% do país parou.
Claro e notório é que há múltiplos interesses na organização da greve do dia 28. A maioria dos que se organizam são os trabalhadores comuns que entenderam a mensagem que os projetos em curso do governo federal atacam direitos historicamente conquistados como a aposentadoria e os direitos previstos na CLT.
Por outro lado, as atuais direções das centrais sindicais atuam na mais tranquila das suas segundas intenções. De um lado, a CUT busca canalizar a indignação popular contra o governo para que o PT se reoxigene nas ruas e para que os protestos beneficiem diretamente o projeto Lula 2018. De outro, a Força Sindical faz barganha com o governo, na ânsia de conseguir mais cargos.
O sindicalismo brasileiro, numa visão mais ampla, está correndo atrás de um prejuízo construído em duas décadas de burocratização, em que os sindicatos viraram sinônimo de corrupção, aparelhamento político e, conseqüentemente, objetos de profunda desconfiança de suas bases.
Os anos de governo do PT foram determinantes para a domesticação de sindicatos que pouco ou quase nada fizeram enquanto Lula e Dilma governaram e aplicaram reformas na previdência e ajudaram a precarizar as relações de trabalho. Desde as manifestações de junho de 2013 essa ruptura entre sindicatos/partidos/entidades-de-representação e a população se escancarou.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta quarta-feira (26) o levantamento “Aspectos das Relações de Trabalho e Sindicalização”. O estudo aponta que do total de 94,4 milhões de trabalhadores no Brasil, são sindicalizados 18,4 milhões, o que corresponde a somente 19,5%.
O baixo número de filiados tem direta relação com a desconfiança existente entre base e direção dessas entidades.
Portanto, é visível que a adesão ao protesto dos próximos dias nada tem a ver com a credibilidade dos sindicatos, ainda muito desgastados, mas fundamentalmente da classe trabalhadora em lutar e derrotar a austeridade no país que é sentida no cotidiano com uma população com o poder aquisitivo menor e mais empobrecida e com o desemprego em alta.
Na verdade, há motivo para uma indignação generalizada se pensarmos em todos esses problemas e no aumento das tarifas, dos preços, do arrocho salarial e a corrupção nas relações do poder, exposta até a medula nas investigações da Operação Lava Jato. Então, passa longe de uma reoxigenação dos velhos sindicalistas os protestos dos próximos dias. Além disso, a baixíssima popularidade de Temer, aprovado por apenas 4% em pesquisa divulgada nesta quarta-feira (26) reforçam o sentimento de bronca.
Outro ingrediente importante da atual conjuntura é que os movimentos que dirigiram as manifestações pelo impeachment estão também desgastados, pagando o preço de apoiar medidas impopulares do atual governo. Isso explica que a greve seja apoiada também por quem defendeu a saída de Dilma.
Em tempos de incertezas políticas e indignação, a esperança se alimenta da expectativa que o sindicalismo em nosso país consiga se reinventar e deixe de ser refém dos que fazem da representatividade de classe uma profissão.