Colunista, RAUL MARECO
No último dia 15, o Corinthians conquistou, antecipadamente, o título de campeão brasileiro pela sétima vez. Era considerado, no início do ano, por analistas esportivos, a “quarta força” do estado de São Paulo para a disputa do Brasileirão 2017 que está findando. Ninguém acreditava no time do outrora craque Sócrates, o médico que tinha nome de filósofo, mas que sabia mesmo ser sábio com a bola de futebol. Este ano, o clube vem pelejando diariamente para diminuir o volume do som recorrente do alerta vermelho das dívidas. Todos apontavam os “novos ricos” Palmeiras e Flamengo como os possíveis donos do caneco nacional. Muita pressão em cima do Timão? Sim, obviamente! Porém, sorte de quem não teve sorte!
Não existe sorte. Sorte é apenas uma palavra ilusória e aleatória criada, tão somente, para gerar falsas expectativas. Fica a impressão de que a sensação empírica de sorte já vem programada em nossas mentes desde que nascemos. Não estou a condenar quem dela se apoia para fortalecer suas perspectivas, afinal, cada pessoa possui a sua maneira peculiar de compreender a realidade. Porém, a sorte, e também o azar, são como a coincidência e o “à toa”, duas (in) formalidades que o ser humano se acostumou a inserir em seu cotidiano.
Na vida, é tudo ou nada. É inexorável: tudo acontece sob um propósito, uma escolha, um objetivo. Nada nos alcança sem um ponto de partida. Somos sempre emissores e nossos próprios receptores. Portanto, voltando ao diálogo sortudo, o que existe, de fato, é a intensidade para onde direcionamos a nossa inteligência: se para a positividade ou para a negatividade. Ou seja, a partir daquilo que se deseja realizar na vida, o que, em definitivo, decidimos no presente para eventualmente consolidarmos no futuro. Inteligência sim que é, inclusive cientificamente, através dos 86 bilhões de neurônios que possuímos, transmissão de energia. E a competência é o resultado, o troféu de todo nosso esforço.
A comissão técnica e os atletas do Corinthians assimilaram exatamente isso. Limitado, o time pôde perceber que não é apenas o dinheiro que pode levar um clube a conquistar os louros das vitórias, os títulos. A competência pode, ah se pode! Aliada, também, à incompetência de quem, mesmo com um maior potencial financeiro, não se apercebeu de estratégias à altura. Acredite, o heptacampeonato do Timão é um exemplo inconteste que se equivale às nossas vidas, independente para qual time nós temos admiração. Em certas ocasiões da vida, nos sentimos limitados em cumprir com nossas obrigações, causando frustração e nos levando a crer que não somos mais capazes de vestir a camisa com o mesmo vigor de antes para continuar nossas partidas.
Você pode estar aí, no seu smartphone, tablet ou notebook achando que eu sou um maluco fazendo uma comparação entre você e um jogador do Corinthians que possui um salário bem superior ao seu. É óbvio que é desproporcional, inclusive com o meu mil vezes.
O cerne da questão é que, mesmo vivendo, estudando ou trabalhando no limite, podemos sim ser tão competentes e elogiáveis, alcançando o patamar que almejamos, quanto quem tem mais condições financeiras. Não é simples, nada é fácil nada vida. Entretanto, com determinação, leitura, naturalidade, organização, e, sobretudo, a energia da inteligência, no fim, a competência será a redenção de tudo.
Sorte e azar são convenções sociais que fazem parte do senso comum da humanidade, não podem coexistir na essência das pessoas na maioria do tempo. Já cantava o poeta Renato Russo: “tempo é tudo o que somos”. Por fim, somos verdadeiros times de futebol, gerenciando nossas vidas, carreiras, amizades, amores, diversões, dores, tristezas.
Sempre estamos na jornada eterna pelos gols de nossas vidas, em busca das vitórias diárias. Se somos derrotados, nunca foi azar, apenas faltou algo durante o planejamento da trajetória. Repense. Se vencemos, tampouco nunca foi sorte, sobrou inteligência. Mantenha a humildade. Independente do placar da sua partida, não esqueça que o campeonato por dias melhores não cessa. E que toda linha de meio de campo é sempre um reinício. Segue o jogo, segue a vida.
Nunca é sorte.
P.S.: sou flamenguista, até morrer. Sem sorte
Qui Genus Humanum Ingenio Superavit
Raul Mareco
Comunicólogo|JornalistaGonzo|Teórico|Articulista|Cronista|Poeta|Ghost Writer. Um amazônida que bebe palavras e se embriaga com inspirações surreais.