SELES NAFES
Se outubro fosse na semana que vem, os grupos que hoje fazem oposição ao governo Waldez (PDT) teriam sérias dificuldades para formar uma coalizão. O PSB e a associação REDE e DEM ainda não conseguiram chegar a um consenso, e talvez nem cheguem. A aliança ainda não foi descartada, mas ela é bem improvável.
Já são meses de um diálogo que começou em meados do ano passado. As mesas envolveram os principais assessores, mas também ocorreram entre os principais interessados: os senadores Davi (DEM), Capiberibe (PSB) e Randolfe (REDE), e o ex-governador Camilo (PSB).
E quando dizem que em política até boi voa, não é exagero. São os mesmos personagens que foram rivais em 2010, se separaram em 2014 (mas se tornaram aliados no 2º turno daquele mesmo ano), e depois voltaram a ser engalfinhar em 2016, durante a campanha pela prefeitura de Macapá, vencida pela REDE.
Nas últimas três eleições (2016, 2014 e 2010), o grupo REDE/DEM só cresceu. Em 2016, elegeu 10 prefeitos e mais de 80 vereadores, numa enorme demonstração de capacidade que consolidou de vez a nova força política do Amapá, se colocando como a única que pode fazer frente ao grupo que hoje governa o Estado, liderada por Waldez Góes.
Agora, em 2018, o que está em jogo é a reeleição de Randolfe e Capiberibe para o Senado, e a sucessão do governador Waldez Góes, que, diga-se de passagem, vem conseguindo reduzir o desgaste e voltou a ter a candidatura viável à reeleição.
Randolfe sabe que se tiver em sua chapa outro candidato ao Senado, como Capiberibe ou Lucas Barreto (PTB), hoje aliado a Waldez, a reeleição seria mais tranquila, por causa da capacidade de transferência de votos de ambos, e, naturalmente, por causa do discurso ideológico linear.
Já o PSB tem consciência de que sem a aliança com um partido grande, corre o sério o risco de perder o Senado e não reeleger Janete por falta de coeficiente eleitoral, calculado hoje em aproximadamente 45 mil votos para a Câmara. Apenas a eleição de Camilo estaria, em tese, mais tranquila.
Tentativas
Em 2016, houve várias tentativas de recomposição da aliança, inclusive com a disposição da REDE de entregar ao PSB duas secretarias grandes: da educação (Semed) e a de Desenvolvimento Urbano (Semdurh). O PSB recusou a oferta por meio de uma nota nas redes sociais.
Meses depois, o PSB propôs uma união progressista para lançar o nome de Randolfe ao governo, o que, obviamente, daria mais chance de reeleição a João Capiberibe. Não houve avanço. O grupo está muito coeso em torno da candidatura de Davi ao governo.
O PSB vê Davi como representante de um governo que retirou Dilma Roussef (PT) do poder. Além disso, não acredita que Randolfe e Clécio darão o espaço que o PSB quer. Para complicar a situação, o PSB viu seu histórico aliado, o PT, entrar no governo Waldez.
Camilo tem defendido que PSB, REDE, PPL e PSOL seriam suficientes para compor uma ampla aliança progressista, capaz de trazer de voltar o PT, reeleger Randolfe com ampla margem, e ainda elegeria Capiberibe governador. Randolfe pensa diferente.
Como a conversa não avança na base, o PSB tenta alterar as coisas articulando nacionalmente, principalmente com o PT. A aposta é que a costura que Waldez fez com Antônio Nogueira, que passou a presidir o PT no ano passado, é precária.
Números
Com base em pesquisas próprias, os dois grupos também possuem leituras diferentes do futuro. REDE e DEM apostam que Davi ganha a eleição se passar para o 2º turno, independentemente de quem seja o adversário. Já o PSB, também com números de pesquisas, acredita que o candidato a ser batido é Waldez Góes.
Apesar de João Capiberibe estar bem pontuado para o governo, o PSB busca outro candidato ao governo já que, no fundo, a prioridade é a reeleição dele ao Senado, de Janete Capiberibe como deputada federal, e a eleição de Camilo na Assembleia Legislativa.
Hoje, Clécio, Randolfe e Davi são alvos preferenciais da guerrilha cibernética do PSB, numa clara estratégia de contrapropaganda que tenta forçar um acordo, mas, que na prática, atinge a imagem de Clécio e Davi e alarga ainda mais a ruptura entre os dois grupos.
Uma conversa definitiva deverá ocorrer ainda em janeiro.