Quando se fala em artistas plásticos e pintores o ser humano logo remete a um trabalho manual, que leva dias, meses para ser finalizado. Essa criação minuciosa geralmente encarece o trabalho e limita a quantidade de possíveis compradores. Mas e se esse trabalho fosse todo realizado digitalmente? Sem que nenhuma gota de tinta seja jogada ao chão, e que pudesse ser rapidamente negociada e vendida pelos meios digitais? Isso já é realidade, e aqui no Amapá.
Quem topou o desafio foi do designer Ronaldo Picanço, administrador de 57 anos, amapaense, herdeiro do Mestre Duca Serra (um dos fundadores da Confraria Tucuju). Ele comprou seu primeiro computador doméstico há 14 anos, em uma época em que as máquinas eram usadas em casa apenas como fonte de pesquisas. “Foi com essa tecnologia que comecei o meu trabalho de artesão digital. Consegui dar vida as imagens que trago de minha infância, quando Macapá ainda crescia timidamente a partir da Praça Matriz, que atualmente é a Praça Veiga Cabral”, relata.
No início, Picanço teve que se acostumar com as novas ferramentas, mas com o tempo começou a ganhar agilidade e passou a produzir coleções de quadros. “Sempre trabalhei com séries, uma característica que é permitida por conta do trabalho digital, pois posso trabalhar várias imagens e montá-las a meu bel prazer, e assim nascem as séries. Uma que mais destaco é a denominada Mosaicos Maracá-Cunani, onde destaco todas as características dessas comunidade ancestrais que deram vida há muito à nossa cultura”, explica.
O “pintor digital”, ou artesão, como se descreve, busca sua inspiração principalmente em imagens históricas, que retratam os cenários antigos do Amapá, ou que, de alguma forma, tragam todo um teor histórico para a manutenção da história local. “Sempre gostei de manter a história do Amapá viva, sendo em minhas obras, ou na luta pela defesa do nosso patrimônio histórico, ideais que foram levantados por meu pai, Duca Serra, no estatuto que deu vida à Confraria Tucuju, ainda na época de território. Acho que foi daí que tirei minhas forças para mostrar a nossa cultura e nossa história”, avalia.
O artista calcula que poucas as pessoas trabalhem com esse tipo de arte. Um fato que faz com que receba encomendas de fora do estado. Seus traços estão em exposição em residências de São Paulo, Belo Horizonte e até na França. “Mesmo com minhas obras espalhadas, no ponto de vista do conhecimento público, a técnica ainda é nova, e vem galgando espaços desde 2013, quando comecei a querer divulgar o meu trabalho”.
A arte digital permite ao artista ter um maior manuseio de suas obras, fato que facilita na reprodutividade técnica das obras. No meio digital, há mais possibilidades de usar efeitos e formas, o que não quer dizer menos trabalho. “Claro que com o meio digital tenho maior agilidade, não preciso ficar sujo de tinta, ou passar meses para finalizar uma série, mas como metodismo. Uso a ferramenta em sua forma mais detalhada, desenhando cada parte do quadro, individualmente, e só depois vou montando as partes, por isso sou um artesão”.
Outra diferença. Na arte convencional, o pintor precisa produzir cada camada de sua paisagem até dar vida a tudo. Na arte digital, o artesão monta cada peça formando o trabalho final. “Tudo isso facilita minha obra, mas não a torna inferior, pois, por ser algo pouco realizado, acabo ganhando destaque, e meus trabalhos até já me rendaram encomendas gráficas, como a capa do CD em homenagem aos 256 anos de Macapá”.
Atualmente o artista trabalha com duas encomendas. O desafio é ilustrar poesias de artistas locais, Incluindo a criação do layout do cd da cantora Brenda Melo. Com essa vertente artística, Ronaldo Picanço começa a ganhar reconhecimento como designer, uma profissão que vem cada vez mais se encaixando a sua vida, principalmente agora que está a menos de dois anos da sua aposentadoria como funcionário público.