Ponto no final da linha. O ônibus desliza preguiçoso de chegar.
Eu espero. Quieto.
O ônibus barulha. Resmunga das juntas. Faz fumaça. Tá velho.
Se fosse uma Maria Fumaça teria um charme todo de cinema aquela cena.
Mas é apenas um ônibus velho, suburbano, mais para um blues etílico no desenho sonoro daquela tarde (quieta) em que me sentei no ponto final para espera-lo chegar preguiçoso na sua tarefa de leva e trás de anos, a seguir o mesmo caminho, colhendo já a terceira geração dos moradores do bairro.
Ele e seu Afrânio, fiel motorista, que veste o uniforme impecavelmente azul, exibindo no braço a logomarca da empresa (como se fosse uma patente militar) e seu bom dia indelével, educado, e com um sorriso no rosto, apesar do salário e das dores nas juntas.
Os dois chegando ao fim da linha, cansados.
E eu espero. Quieto.
Afrânio estaciona o ônibus no final da estação, próximo à lanchonete. Desliga o motor e desce em direção ao banheiro.
Quando volta, trás um balde com água para dar ao ônibus, como se este fosse um bicho de estimação. Despois de despejar toda a água no carburador da máquina, Afrânio vai a lancho-te pedir seu sanduiche natural com um todinho. Não sem antes dar uns tapinhas na cara do companheiro de trabalho.
O ônibus não tem cobrador, seu Afrânio é quem recepciona os passageiros e recebe o dinheiro da passagem. Gosta do que faz. Dá pra ver no seu jeito de tratar os passageiros.
Os dois se parecem. Fuças da mesma fundição, liga da mesma carne.
E eu espero que eles descansem para iniciar minha viagem rumo ao centro da cidade.