Preconceito de diretores atrapalha distribuição de preservativos nas escolas estaduais

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O crescente número de adolescentes grávidas em Macapá levou a Coordenadoria de Vigilância em Saúde (CVS) a investir em projetos voltados para a prevenção. Mas não é só a gravidez que vem sendo combatida. As doenças sexualmente transmissíveis também fazem parte dessa guerra. Entre esses projetos estão os grupos de prevenção a gravidez precoce que vêm sendo implantados nas escolas. Mas o preconceito de quem também deveria se preocupar com a saúde dos estudantes atrapalha uma das iniciativas do projeto, a distribuição de preservativos em todas as escolas. 

Os grupos são responsáveis, por exemplo, pela distribuição de preservativos. De acordo com o coordenador do projeto, o enfermeiro do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids (DTS/Aids), Vencelau Pantoja, o projeto cresceu com a ideia da produção de dispensadores a partir da própria caixa da camisinha. Esses dispensadores são instrumentos onde são colocados os preservativos ao alcance de qualquer pessoa.

O próximo passo será difusão de debates sobre o assunto nas escolas. E também levar os projetos para outros estados. Quanto aos dispensadores, Vencelau explica que no primeiro protótipo foi usado a caixa de preservativo masculino e fitas para reforçar a embalagem. A ideia foi muito bem recebida pelo Conselho de Enfermagem do Amapá que ajudou a captar recursos para a produção de dispensadores em acrílico. Os primeiros dispensadores de camisinha masculin

Vencelau Pantoja luta também contra o preconceito para espalhar os preservativos pelas escolas

Vencelau Pantoja luta também contra o preconceito para espalhar os preservativos pelas escolas

a foram implantados em escolas estaduais e hospitais.

O sucesso foi tão grande que o dispensador está sendo levado para aldeias indígenas do município de Oiapoque. “Isso é outra coisa inédita no estado. Capacitamos as equipes que levaram o material e deixaram nas aldeias. Agora queremos trazer a sociedade para o debate a cerca do assunto. Não basta ter a camisinha disponível em um dispensador. Os jovens precisam saber como usar e o que previne”, avalia o enfermeiro, destacando que o DST/AIDS quer colocar o dispensador em todas as escolas e trazer os pais e alunos para um diálogo aberto.

Primeiro dispensador de preservativo, feito a partir da própria embalagem de papelão. Depois vieram os de acrílico

Primeiro dispensador de preservativo, feito a partir da própria embalagem de papelão. Depois vieram os de acrílico

Atualmente 30 escolas têm o dispensador de camisinha, mas o número é pequeno se comparado com o número de escolas que existem no Estado, que hoje chega a aproximadamente 300 estabelecimentos. O problema é que nem todos os diretores de escolas entendem a proposta e permitem a instalação dos dispensadores. No Centro de Ensino Profissionalizante (Cepa), por exemplo, os dispensadores de preservativos foram barrados pela direção. “Há muito conservadorismo”, queixa-se Pantoja.

Outro objetivo da Coordenação do DST/Aids é implantar o dispensador também nas escolas municipais. “Nas escolas do município o desafio é maior porque são alunos com menos de 15 anos. Mas somos amparados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente que orienta a disponibilização de preservativos a maiores de 12 anos”, afirma o coordenador.

A iniciativa do enfermeiro Vencelau Pantoja redeu reconhecimento para o estado. “Eu criei os grupos de prevenção em 2005. Desde lá já viajei com a coordenação do DST/Aids para vários estados palestrando e dando oficinas. Além disso, o Ministério da Saúde colocou no site um manual para as escolas de como cada uma pode criar seu próprio dispensador ou porta-camisinha”, conta ele. O objetivo atual é fazer ações de prevenção, disponibilizar e tirar as dúvidas da sociedade. “Queremos fomentar esse debate sobre a prevenção e aumentar o número de grupos de adolescentes que divulgam esse trabalho. Mas acabamos esbarramos na dificuldade de que muitos pais acham que damos camisinha e incentivamos o filho para manter relações sexuais. Isso não é verdade. Os números mostram que há um crescimento absurdo de adolescentes grávidas e com doenças sexualmente transmissíveis. Trabalhamos na tentativa de diminuir esse índice”, conclui Vencelau Pantoja.

Seles Nafes
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