Uma comissão da Ordem dos Advogados do Brasil no Amapá (OAB/AP) realizou uma inspeção no Hospital de Emergência na manhã desta sexta-feira, 9. Os advogados constataram os problemas já conhecidos pela população, entre eles a falta de macas, remédios, banheiros interditados, mofo nas paredes, goteiras no teto, rede elétrica exposta e muita reclamação dos técnicos e pacientes. O resultado da inspeção vai gerar um relatório que será encaminhado à Secretaria de Estado da Saúde anexado a uma recomendação para que resolva os problemas.
A comissão verificou que das cinco macas existentes no HE, apenas duas funcionam, sendo que uma está parcialmente danificada. De sete banheiros inspecionados, três estão interditados e quatro não estão em boas condições de uso. Os médicos ouvidos pelos advogados reclamaram da falta de condições de trabalho. Segundo eles, um dos principais equipamentos da unidade de saúde, que é o raio X, é antigo e compromete o diagnóstico.
De acordo com funcionária terceirizada Marinilde Miranda, a situação do hospital é caótica. “Não tem como trabalharmos e muito menos atendermos dignamente as pessoas. Não tem remédio pra dor, não tem lençol limpo, sem contar que estamos há três meses sem receber. Isso aqui não é trabalho digno pra ninguém”, desabafou.
Os pacientes são os que mais reclamam. “Estou aqui há dois meses. Nas duas últimas semanas nenhum médico apareceu para nos atender, só os enfermeiros. Eles apenas nos olham e vão embora, porque aqui não tem nada”, reclamou o paciente Enoque Teixeira, que fraturou o quadril e espera por cirurgia.
Manoel Braga, que acompanha a mãe de 78 anos que está alojada no corredor, conta um pouco do seu sofrimento. “Além de ser quente nesse corredor, ninguém vem interceder por nós. Minha mãe sofreu derrame há duas semanas, mas só se preocuparam com ela no primeiro dia, depois nos esqueceram aqui”.
A comissão da OAB também verificou que dos seis respiradores existentes no HE, apenas três funcionam. De acordo com a enfermeira Katia Mendes, já aconteceu de pacientes terem que revezar o uso dos equipamentos. “Trabalho há vários anos aqui é esses respiradores não funcionam. Já chegaram aqui oito pacientes precisando de oxigênio e tiveram que revezar o uso, já que não tinha para todos”, contou.
O grande gargalo mesmo no HE são os pacientes que precisam de cirurgia ortopédica. Apenas nesta sexta-feira, 85 pacientes precisavam de cirurgia ortopédica, sendo que 32 deles precisam de transferência para o Hospital das Clinicas Alberto Lima (Hcal). Para o diretor da unidade, Regiclaudio Silva, a superlotação será resolvida com a inauguração de novas salas e ambulatórios do Hcal. “Aos poucos estamos transferindo os pacientes para o Hcal para podermos atender a enorme demanda que temos aqui.”
Após a inspeção o presidente da OAB/AP, Paulo Campelo, disse que a questão estrutural é a maior preocupação. Segundo ele, a estrutura do HE é muito antiga. “Nós sabemos que há 50 anos esse hospital não passa por reformas e a demanda só aumenta. Isso aqui é um retrato da falta de investimento na saúde pública. Vamos emitir um relatório para a Secretaria de Saúde, e esperar que tome as medidas necessárias para amenizar essa situação caótica que constatamos aqui.”, enfatizou Campelo.