Mesmo sem querer, o senador José Sarney (PMDB) virou peça fundamental na configuração das alianças partidárias deste ano, e não é pelo prestígio. Ao anunciar nos próximos dias se concorrerá ou não a um novo mandato de senador pelo Amapá, o político maranhense de 84 anos sabe que vai desencadear uma sequência de acontecimentos que representarão o fortalecimento ou a esvaziamento de alianças fundamentais nas campanhas de rivais e potenciais aliados. O coeficiente eleitoral e o tão precioso tempo de televisão estão em jogo.
A raiz dessa complicada equação começa na aliança nacional entre o PT e o PMDB e a diferença em relação aos planos dos petistas do Amapá. O PT local quer Dora Nascimento no Senado, ao contrário do que pretende o diretório nacional da legenda, que tem como prioridade a candidatura de Sarney à reeleição. É preciso deixar claro que Sarney é o que interessa no Amapá, não o PMDB.
Se Sarney decidir pela candidatura à reeleição, existe uma certeza matemática de que o diretório nacional do PT vai dissolver o diretório local, nomear um diretório provisório e determinar o apoio ao PMDB, leia-se Sarney. Isso seria um ótimo negócio para o PDT, que tem como pré-candidato Waldez Góes e, por enquanto, uma possível coligação com o PMDB. Essa aliança passaria a contar, teoricamente, com o PDT, PT e PMDB, o que garantiria a vaga de Sarney, enquanto que ao PT até poderia indicar o vice de Waldez.
Mas se Sarney desistir, o “plano B”, Gilvan Borges, muito provavelmente não terá apoio do PT nacional, e muito menos do diretório local. Porque? A reeleição de Sarney é o que interessa. Os petistas amapaenses ficam livres para continuar com o PSB, de Camilo Capiberibe.
Nesse cenário, o PMDB dificilmente fará coligação com o PDT para proporcionais (deputados estaduais e federais) já que a maioria dos partidos que gravitava em torno de Waldez e Sarney forma agora o arco com o PT do B, de Bruno Mineiro.
Restará ao PMDB procurar outro palanque, e o de Bruno Mineiro seria ideal. Bruno teria mais tempo de televisão com a adesão de um partido gigante, e em troca apoiaria a candidatura de Gilvan ao Senado.
É claro que existem outras variáveis nessa equação e os resultados podem não ser exatamente esses, mas movimentações que Sarney fará nos próximos dias, com certeza, mudarão o cenário de alianças, tempo de televisão e coeficiente eleitoral para pelo menos três grupos em campanha. E ele sabe disso.
Aos 84 anos, 60 deles no poder, Sarney tem motivos de sobra para estar indeciso. Além da idade avançada, Sarney não tem mais a base política que lhe deu sustentação por 24 anos no Amapá. Sem falar que ainda tem pela frente o adversário mais duro de sua trajetória, um jovem comerciante de 34 anos e deputado federal chamado Davi Alcolumbre (Democratas).