A encruzilhada de Sarney

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Mesmo sem querer, o senador José Sarney (PMDB) virou peça fundamental na configuração das alianças partidárias deste ano, e não é pelo prestígio. Ao anunciar nos próximos dias se concorrerá ou não a um novo mandato de senador pelo Amapá, o político maranhense de 84 anos sabe que vai desencadear uma sequência de acontecimentos que representarão o fortalecimento ou a esvaziamento de alianças fundamentais nas campanhas de rivais e potenciais aliados. O coeficiente eleitoral e o tão precioso tempo de televisão estão em jogo.

Ao ser empossado governador do Maranhão em 1965. Cinco décadas de poder

Ao ser empossado governador do Maranhão em 1965. Cinco décadas de poder

A raiz dessa complicada equação começa na aliança nacional entre o PT e o PMDB e a diferença em relação aos planos dos petistas do Amapá. O PT local quer Dora Nascimento no Senado, ao contrário do que pretende o diretório nacional da legenda, que tem como prioridade a candidatura de Sarney à reeleição. É preciso deixar claro que Sarney é o que interessa no Amapá, não o PMDB.

Se Sarney decidir pela candidatura à reeleição, existe uma certeza matemática de que o diretório nacional do PT vai dissolver o diretório local, nomear um diretório provisório e determinar o apoio ao PMDB, leia-se Sarney. Isso seria um ótimo negócio para o PDT, que tem como pré-candidato Waldez Góes e, por enquanto, uma possível coligação com o PMDB.  Essa aliança passaria a contar, teoricamente, com o PDT, PT e PMDB, o que garantiria a vaga de Sarney, enquanto que ao PT até poderia indicar o vice de Waldez.

Mas se Sarney desistir, o “plano B”, Gilvan Borges, muito provavelmente não terá apoio do PT nacional, e muito menos do diretório local. Porque? A reeleição de Sarney é o que interessa. Os petistas amapaenses ficam livres para continuar com o PSB, de Camilo Capiberibe.  

Para o PT, só o que interessa é Sarney.

Para o PT, só o que interessa é Sarney.

Nesse cenário, o PMDB dificilmente fará coligação com o PDT para proporcionais (deputados estaduais e federais) já que a maioria dos partidos que gravitava em torno de Waldez e Sarney forma agora o arco com o PT do B, de Bruno Mineiro.

Restará ao PMDB procurar outro palanque, e o de Bruno Mineiro seria ideal. Bruno teria mais tempo de televisão com a adesão de um partido gigante, e em troca apoiaria a candidatura de Gilvan ao Senado.  

Além da idade, falta de apoio político e do desgaste natural do poder, Sarney ainda terá pela frente Davi Alcolumbre

Além da idade, redução da base política e do desgaste natural do poder, Sarney ainda terá pela frente Davi Alcolumbre

É claro que existem outras variáveis nessa equação e os resultados podem não ser exatamente esses, mas movimentações que Sarney fará nos próximos dias, com certeza, mudarão o cenário de alianças, tempo de televisão e coeficiente eleitoral para pelo menos três grupos em campanha. E ele sabe disso.

Aos 84 anos, 60 deles no poder, Sarney tem motivos de sobra para estar indeciso. Além da idade avançada, Sarney não tem mais a base política que lhe deu sustentação por 24 anos no Amapá. Sem falar que ainda tem pela frente o adversário mais duro de sua trajetória, um jovem comerciante de 34 anos e deputado federal chamado Davi Alcolumbre (Democratas).

Seles Nafes
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