No ano passado 14 pessoas foram diagnosticadas com doença de chagas em Macapá, uma morreu. A Vigilância Epidemiológica Municipal suspeita que a maioria dos casos seja transmitida através do açaí. O assunto foi pauta de audiência pública nesta quinta-feira, 09, na Assembleia Legislativa. A ideia inicial é criar uma lei que regule toda a cadeia produtiva do açaí no Amapá.
Em todo o Estado existem 1,2 mil batedeiras de açaí, que nem sempre seguem as Boas Práticas de Fabricação de Alimentos (BPF), conjunto de recomendações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
“O açaí está diariamente na mesa da maioria dos amapaenses. Essa audiência visa conscientizar a população de que esse produto pode transmitir via oral a doença de chagas. Nosso objetivo é criar um selo de qualidade para o nosso açaí e dar a importância que o tema requer”, afirmou o deputado Dr. Furlan (PTB), que visa aprovar uma lei sobre o tema.
A doença de chagas é transmitida pelo Trypanosoma cruzi, encontrado nas fezes de alguns insetos, como o barbeiro, e é um dos maiores problemas de saúde na América do Sul, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo a Vigilância Epidemiológica de Macapá, em 2013 houve o registro de 4 casos e 1 óbito. Em 2012 foram 16 casos, sem mortes. Em 2011 foram 9 registros com 2 óbitos. “No ano passado o Bairro Marabaixo apresentou maior incidência da doença. Esse tema requer atenção para prevenção e tratamento”, ressaltou Marluci Chermont, diretora da Vigilância Epidemiológica.
Quem contraiu a doença acredita que falta atendimento e tratamento de qualidade. A professora e escritora Carla Nobre, de 39 anos, contraiu a doença em 2008. Segundo ela, ninguém sabia dar o diagnóstico. “O médico que me atendeu pediu exame de malária e dengue. E por minha conta eu fiz o exame de chagas e fui diagnosticada, já no sistema privado. Eu já tinha edemas até no coração”, afirmou a escritora.
A cidade de Macapá possui mais de 500 batedeiras de açaí. O município de Santana tem quase 300. Para o presidente da Associação de Batedores de Açaí do município de Santana, Dorinaldo Nascimento Moraes, falta parceria para facilitar o tratamento do produto. “Nós temos 100 mesas de catação. Essa mesa retira os resíduos sólidos do açaí, inclusive, o próprio barbeiro. Também fazemos o branqueamento. Isso tudo tem um custo que repassamos para o consumidor. Se tivéssemos parcerias esse custo com certeza seria reduzido”.