Esta quarta-feira, 23 de setembro, entrou para a história econômica do Brasil. Exatamente às 12h30min ocorreu a maior alta do dólar, moeda comercial usada em quase todas as bolsas de valores do mundo, chegando a R$ 4,13. Isso significa a maior desvalorização do Real desde que foi implantado como moeda oficial do país, em fevereiro de 1994.
Segundo dados do Banco Central, o Dólar segue em alta e batendo recorde atrás de recorde. O máximo atingido nesta quarta foi R$ 4,13 para venda. Economistas afirmam que o momento é de prolongação da crise econômica.
O sites SelesNafes.Com ouviu o economista José Iguarassu, que falou sobre as incertezas na área econômica do Brasil, prolongação da crise financeira, perspectivas sobre o futuro e a recuperação econômica do país. Para ele, a crise se arrasta desde 2008, mas agora vivemos o ápice da instabilidade econômica. Acompanhe:
SelesNafes.Com: Por que o Dólar mexe tanto com a nossa economia?
José Iguarassu: O Dólar é a moeda comercial do mundo. Todos os investimentos brasileiros e as atividades empresariais do país são negociadas em Dólar. Hoje vivemos o ápice da crise porque as empresas estão deixando de investir, demitindo funcionários e até mudando de país. Com isso não há uma expansão do mercado nem da produção. É um sistema complexo formado pela dívida pública do governo, receita de impostos e investidores. Veja bem, a partir do momento que o país aumenta os impostos, as empresas, que não vêem vantagens nisso, deixam de investir. Resultado: o governo deixa de arrecadar, deixa de pagar as dívidas externas e os preços continuam aumentando. Com essa alta do Dólar aumentam ainda mais os problemas.
Quais os efeitos do Dólar na Área de Livre Comercio de Macapá e Santana?
São os mesmos que acontecem por todo o país. Mas é um impacto indireto. A Área de Livre Comércio reduz a contratação de pessoas e atividades, com isso a demanda externa diminui e aumenta a interna. O bom disso é que se fomenta a produção nacional. O lado ruim é que as empresas pagam muitos impostos e acabam aumentando os preços. Nesse momento, a economia está parada porque o poder de compra do consumidor está baixo devido a inflação.
Além de empresas fecharem, quais os outros impactos da crise?
Sem dúvida é a inflação, ou seja, o aumento generalizado de preços. Nós estamos vivendo algo muito ruim, que é o aumento do Dólar. Isso significa perda de capital do país. Temos a diminuição das atividades econômicas, como produção e criação de insumos. Portanto, o consumidor que já viu sua renda diminuir, está vendo tudo ao redor aumentar e ninguém gasta muito com roupas ou calçados, por exemplo. Por isso, os economistas projetam que a recuperação dessa crise será em meados de 2017.
Com a valorização do Dólar em relação ao Real, não é mais viável exportar para fomentar a circulação de dinheiro?
Em linhas gerais, sim. Eu vou exportar produtos pelo preço de uma moeda em alta e vou internalizar para uma moeda mais baixa, ou seja, vou pegar um valor alto fora do país e investir dentro. Mas nem sempre é isso que ocorre internamente. Para a economia, chega um momento que isso se torna negativo, porque os produtores desabastecem o mercado interno para se voltar para o externo.
Esse é um bom momento de se fazer financiamento ou compra de bens?
Não. Não é o momento. Com a instabilidade dos investidores e a incerteza econômica, é melhor não fazer isso por conta dos juros altos. Quem puder aguardar é melhor. Vamos passar por um momento em que as empresas vão começar a fazer mais promoções para fomentar a compra. Aí, sim, será ideal para compra de imóveis. Por exemplo, já percebemos que as pizzarias fazem promoção em um dia da semana, isso é para circular dinheiro. Daqui a pouco, isso será comum em outros setores.
A falta de consumo não pode frear a produção e geração de empregos?
Sim. É o que está acontecendo hoje. Por não ter mercado, a produção diminui e acaba gerando demissão em massa como estamos vendo. Desde 2008 vivemos essa crise por meio das compras parceladas. Se fomentou muito isso no Brasil, mas chegou um momento de pagar a conta. Aí você soma parcela de carro, tv, casa, plano de saúde e colégio, isso dá um absurdo no fim do mês e compromete todo o salário do trabalhador. Por isso, não se vende como antes, porque nesse momento o consumidor está pagando dividas contraídas no passado.
Essa crise será mais profunda?
No meu ponto de vista não. Ela está no seu máximo. A grande preocupação é por quanto tempo ela permanece. Nós vivemos um longo período de prosperidade, agora é hora de pagar a conta. Infelizmente, a crise ainda vai durar.
A volta do CPMF é o caminho para o fim da crise?
Não. Eu me associo a todos aqueles que defendem uma redução de despesas do setor público antes de se falar sobre aumento de carga tributária. A volta do imposto do cheque não é o caminho. Há um estudo que revela que 75% da despesa pública é com o pessoal, esse setor deve ser fiscalizado. O governo deve otimizar suas receitas para poder falar de impostos.
Qual o papel do governo em meio à crise?
O papel é fundamental, já que o Estado é o regulador da economia. Nesse momento se percebe que o governo está buscando alternativas financeiras e políticas para conter o desestimulo dos investidores. Tem que cortar gastos e criar uma nova necessidade de consumo para que o poder de compra aumente e a economia comece a girar. Mas é necessário o Estado dar o exemplo, fazendo corte de gastos. Isso, politicamente, é um assunto delicado, mas economicamente é a solução mais fácil.
Foto de Capa: silvajardim.rj.gov.br