Nesta terça-feira, 8, a partir das 19 horas, o palco do Projeto Botequim, no Sesc Araxá, recebe um dos maiores músicos do Amapá: Raimundo Nonato Barros Leal, de 88 anos, o Nonato Leal. Ele, que compôs com grandes poetas como Alcy Araújo e Isnard Lima, retorna aos palcos amapaenses depois de um ano sem apresentações ao vivo.
Nonato nasceu dia 23 de julho de 1927, na cidade de Vigia, Estado do Pará. Começou a tocar instrumentos de corda aos 8 anos de idade. É professor de música formado em conservatório e lecionou durante 28 anos na Escola de Música Walkíria Lima. Morador do Bairro do Trem desde 1959, é bem casado há 57 anos e tem 6 filhos como sua maior herança.
Pai de Vanildo e Venilton Leal (os dois são músicos), Nonato se considera um eterno aprendiz de música. Ele carrega uma bagagem de 78 anos de carreira e muitos shows pelo Brasil.
Filho de pais que respiravam música, Nonato tem como sua maior referência o cantor Luiz Bevilaqua, que o orientou a tocar somente violão “e hoje se eu tenho um nome é devido a ele. Foi ele quem estimulou meu talento e me ensinou como dominar um violão”, comentou o músico que falou sobre carreira, experiência e o cenário musical em entrevista ao site SelesNafes.Com, confira:
SelesNafes.Com: O que marcou musicalmente na sua adolescência?
Nonato Leal: Naquele tempo a gente fazia muita seresta, e isso me marcou muito. Principalmente porque eu era muito novo, tinha 10 anos e já tocava em umas casas de shows na minha cidade, sempre na companhia do meu pai. Foi ele quem me deu os meus primeiros instrumentos como bandolim, viola e violão.
O senhor sempre se apresentou só?
Não. Logo no início, sim. Fui para Belém ainda adolescente e formei um grupo musical. Foi muito válida a experiência com outros colegas, mas eu fui o único a persistir na música. Hoje os outros já descansam em paz e eu sobrevivo de música.
Qual a experiência adquirida em um conjunto musical?
Nós formamos o grupo em Belém e viajamos para o Rio. Uma cidade diferente, com pessoas que ainda não se conheciam e com temperamentos distintos. Resultado: divergências e brigas. A experiência nisso tudo foi que às vezes é melhor seguir um caminho só.
Como o senhor chegou até o Amapá?
Nesse período que eu estava no Rio, coincidiu de um irmão meu fazer aniversário, e ele morava em Macapá. Eu vim comemorar com ele e nunca mais voltei. Já moro aqui há 63 anos e sou completamente apaixonado por essa cidade. Gosto desse clima bucólico e ribeirinho, como é na minha cidade natal, mas aqui é mais lindo!
Qual era o cenário musical do Amapá naquele período?
Bem, era predominante a seresta, samba canção, bolero e havia começado a invasão da Jovem Guarda. Não havia essa cultura de barzinho e violão como é hoje. Tinha só algumas boates que também logo começaram a tocar Bossa Nova e eu entrei no movimento. Hoje considero o estilo um grande divisor da música e da história do país.
O senhor lecionou na Escola Walkiria Lima uma década antes do que veio a ser chamado Movimento Costa Norte. O senhor percebeu esse talento nos seus alunos?
Eu sempre vi um grande potencial nos músicos amapaenses. Mas, no meu modo de pensar, a música do Amapá tinha uma metodologia errada e isso conteve muitos talentos que também não tiveram incentivos ou oportunidades de mostrarem esse dom. Eu tenho essa leitura pelo que vi no Pará, que teve um apoio tremendo das autoridades e isso tornou a música paraense conhecida no Brasil inteiro e em outras partes do mundo.
O que mais lhe marcou nesses 78 anos de carreira?
Nossa! Tem muita coisa. Mas uma que posso destacar, foi quando eu era professor no conservatório de música. Eu ensaiei muito e toquei pela primeira vez no conservatório, uma música de minha autoria chamada Carmezita, e aquilo me marcou muito porque fui ovacionado de pé e tive que tocar mais três vezes a mesma canção. Essa aceitação pelo meu trabalho significou muito pela espontaneidade.
Defina o cenário musical do Amapá hoje.
É muito promissor. Falta um empurrãozinho, mas talento tem. Não sei o que de fato falta, mas nomes consagrados têm. Um exemplo é a Patrícia Bastos. Quem é ela? Uma grandiosa cantora com uma das vozes mais lindas que ouvi. Em Belém, ela é chamada de “uirapuru da Amazônia”, o que é muito gratificante. Temos ainda Zé Miguel, Osmar Júnior, Amadeu Cavalcante e muitos outros.
Qual o ensinamento que o senhor deixa para quem pretende ser violonista?
Tem que começar cedo. O fator principal é a persistência. Você tem que tentar, tentar e tentar. O dedo pode criar calo, a munheca doer e o braço cansar, mas continue tentando até chegar numa nota que soe bem. Isso é um exercício cotidiano e só tem duas alternativas: você domina ou é dominado. Eu estou chegando ao estágio de dominá-lo. Para quem está aprendendo agora fica o esclarecimento: esse é o instrumento mais difícil de ser bem tocado e mais fácil de ser mal tocado.
O que esperar do seu show à noite?
Eu vou tocar 10 músicas autorais e que, modéstia à parte, embalaram a vida de muitos amapaenses. Tem amigos convidados e muita música boa. Quem quiser saber mais é só aparecer por lá.