SELES NAFES
Durante as primeiras horas de velório, na manhã desta terça-feira, 27, pelo menos 14 filhos compareceram à capela no Bairro Santa Rita, para dar adeus a José Paixão Dias, de 68 anos, servidor público e navegador que deixou dezenas de descendentes. Parentes confirmam a existência de pelo menos 30 filhos, mas eles acreditam que o número correto seja o dobro disso.
“Tem muita gente ainda vindo para cá. Alguns moram longe, e não vão aparecer. Tem, por exemplo, dois casais de gêmeos, um deles veio de São Paulo”, informou Socorro Dias, irmã do servidor.
José Paixão Dias, mais conhecido como ‘Dias’, passou a vida inteira viajando. A trajetória dele começou na Marinha no início da juventude, e nos anos seguintes, foi morar nos Estados Unidos, onde fez escola de paraquedismo. Morou na Europa, no Rio de Janeiro, Ceará, São Paulo e Minas Gerais e outros estados, sempre como navegador.
“Ele foi até figurante de novela da Globo quando morou no Rio”, revela Liu Kim, sobrinho que fez muitas viagens com Dias e conhece muito a história dele.
De volta ao Amapá, nos anos de 1980, atuou na extinta Superintendência de Navegação (Senava), e, em 1996, ele foi transferido para o Incra, já como servidor federal.
Dias tinha fama de conquistador, por isso, pelas cidades onde passou, colecionou romances, só que raros foram duradouros. No popular, era ‘pegador’. Mais recentemente, estava morando sozinho após o último relacionamento que durou oito anos e gerou mais 7 filhos. Foi o maior tempo que ele passou casado.
Apesar da idade, José Paixão tem filhos ainda crianças, de até 3 anos de idade, segundo José Paixão Dias Júnior, um dos descendentes que mais teve convívio com o veterano navegador.
Júnior tem guardado muitos objetos do pai, principalmente fotos que ele pretende compartilhar com outros irmãos.
“Alguns são muito pequenos, têm 3 anos e 4 anos, mas quando quiserem poderão me procurar para buscar a memória do nosso pai. Alguns mais velhos guardam rancor dele por não ter sido um pai presente, mas eu entendo esse sentimento”, comentou.
“Ele não era um pai amoroso, mas sempre me deu conselhos certos quando eu precisei”, acrescentou o filho.
Nesta segunda-feira, 26, José Paixão Dias perdeu a luta contra um câncer de medula. Além dos muitos filhos e de uma casa no município de Ferreira Gomes (sempre preferiu morar no interior), ele deixou uma família feliz ao ajudar a salvar mesários do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AP) do Amapá na eleição de 2012.
O acidente ocorreu em uma comunidade do município de Mazagão. A embarcação que ele conduzia veio a pique durante uma tempestade, e mesmo com 64 anos e estando a salvo em uma das margens do rio, decidiu voltar para a água para salvar um dos mesários que estava sendo levado pela correnteza.
Com o ato, ele recebeu uma medalha por bravura da Justiça Eleitoral e ficou conhecido como um dos heróis do TRE.
Um dia, a história de Dias poderá ser um bom livro.