Com fugas e inocentes presos, crime vai a júri 17 anos depois

Elizelda Freitas foi morta com 27 facadas. Caso ficou conhecido na época como "Crime da Casa Chama", e um inocente chegou a ficar quase 4 anos preso
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SELES NAFES

Cerca de 17 anos depois, um dos crimes mais bárbaros da crônica policial do Amapá pode finalmente parar no Tribunal do Júri. Depois de ser preso no Ceará, após mais de 11 anos fugindo, o principal suspeito do “Crime da Casa Chama” vai sentar no banco dos réus em Macapá.

No dia 28 de março de 1999, Elizelda Freitas da Silva, de 26 anos, chamada por amigos e parentes de “Nega”, foi encontrada morta no apartamento onde morava nos altos da Casa Chama (por isso o apelido famoso do crime), no centro comercial de Macapá. Ela foi morta com 27 facadas.  

Na época do crime, duas pessoas foram presas. Uma delas, o professor Antônio Pereira Barbosa Filho, que era vizinho da vítima e sentia atração por ela, chegou a ficar preso durante quase 4 anos recolhido no Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen). Ele era de São Paulo, e o Ministério Público alegou que ele poderia fugir do estado. 

À esquerda, Nepomuceno aos 20 anos; ao lado, foto tirada e agosto de 2016 no Iapen. Foto: Arquivo policial

À esquerda, Nepomuceno aos 20 anos; ao lado, foto tirada em agosto de 2016 no Iapen. Foto: Arquivo policial

No entanto, depois de ter a vida devastada, o professor foi considerado inocente em 2012,  em recurso ao Pleno do Tribunal do Júri por falta de provas.  Outro suspeito, Andrey Costa Pereira, chegou a ser preso durante 20 dias, mas também foi inocentado em 2012.  Depois do episódio, o professor Barbosa anunciou que escreveria um livro a respeito do caso, e deixou o Amapá.

Enquanto isso, a última pessoa vista com Elizelda na noite do crime, conversando com ela no portão que dá acesso aos apartamentos do edifício residencial, continuava solto. Jackson Rodrigues Nepomuceno, o acusado, só deu um depoimento sobre o caso três anos depois do assassinato, e sempre negando a autoria. 

Edileuza foi morta com 27 facas, no apartamento onde morava. Foto: Arquivo familiar

Edileuza foi morta com 27 facas, no apartamento onde morava. Foto: Arquivo familiar

“Ele mesmo diz que estava na cena do crime, foi o último a conversar com ela”, comenta a advogada da família, Emelyza Lima, que está atuando como assistente de acusação

Desde o início das investigações, a polícia apontava para um terceiro suspeito,  neste caso Jackson Nepomuceno. Consta nos autos que depois do crime ele atendido em uma unidade de saúde com um corte na mão. 

Ele havia sido reconhecido por testemunhas por meio de fotografias como a pessoa que conversava com a vítima no portão. No dia seguinte ao crime, segundo os autos do processo, ele teria largado o emprego, esposa, e fugiu de Macapá. Na firma onde trabalhava, alegou que o pai havia morrido e precisava ir embora. Na época tinha 20 anos de idade.

Diante das provas contra ele, a Justiça decretou sua prisão temporária e depois a preventiva. Em 2002, ele foi preso no Rio de Janeiro e recambiado a Macapá, mas acabou sendo beneficiado por um habeas corpus.

Um dos acusados ficou preso inocentemente durante quase 4 anos

Um dos acusados ficou preso inocentemente durante quase 4 anos. Foto: Arquivo/Seles Nafes

A advogada Emelyza Lima diz que a promotoria de Justiça demorou a incluir o acusado no polo passivo do processo. Por isso, no dia 4 de dezembro de 2012, sem a manifestação do Ministério Público, ele acabou sendo solto.

A promotora Andréa Guedes, da Promotoria de Investigação Criminal (PICC), assumiu o caso e realizou investigações. Em 2005, ela ofereceu denúncia contra Jackson Rodrigues Nepomuceno, mas ele acabou fugindo novamente.

No dia 20 de agosto de 2016, ele foi preso no município de Tianguá, no Ceará, e transferido novamente para o Iapen. No próximo dia 8, uma audiência de instrução na 1ª Vara do Tribunal do Júri dará prosseguimento ao processo.

O juiz João Guilherme Lages tomará o depoimento do réu e de testemunhas.  

“Não está marcado o julgamento ainda, estão tomando as providências para levar o caso para o Tribunal do Júri, explica a advogada da família da vítima. 

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