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Aos 44 anos, a assistente social Regilene Gurgel, filha do lendário radialista Hermínio Gurgel (o Pai D’égua), vive um drama que nunca havia sonhado passar quando, há 21 anos, se casou com Moisés Souza (PSC), que depois se tornaria deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Amapá (Alap).
Há mais de 4 meses separada do marido, que cumpre pena de 13,4 anos em regime fechado por improbidade administrativa, ela diz enfrentar dificuldades financeiras até para manter os filhos na escola, que não é paga desde o início do ano.
O aluguel da casa onde mora, em um pequeno condomínio fechado na zona sul de Macapá, também não está sendo pago.
“Viemos para cá porque é mais seguro. A nossa casa própria fica no Jardim Equatorial, mas quando nos tiraram os policiais, seguranças, assessores e fiquei sozinha com meus filhos, ficou muito perigoso permanecer lá”, justifica, acrescentando que não sabe também quando poderá pagar o aluguel atrasado há três meses.
Regilene Gurgel garante que o único patrimônio da família é a residência do Jardim Marco Zero e um Golf ano 2014.
Parece difícil acreditar que uma família que teve um patriarca poderoso e influente durante tantos anos na política do Amapá esteja realmente passando por uma situação financeira tão complicada. Os amigos e a esposa, contudo, garantem que é verdade, e esse não é o único drama: os filhos, principalmente o menor, estão sofrendo com a ausência do pai.
Aos domingos, quando vão visitar Moisés Souza no Centro de Custódia do Bairro Zerão, onde está desde o dia 29 de novembro de 2016, todos voltam para casa chorando. Para amenizar o sofrimento, o caçula recebeu uma explicação ao estilo de “A Vida é Bela”: aquele lugar é o local de trabalho do papai.
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Como foi o dia em que o deputado se apresentou à Justiça?
Regilene Gurgel
Eu acompanhei ele até o último instante. Ele estava muito tranquilo. Dizia que a decisão da Justiça era para ser cumprida. E está lá, esperando em Deus.
Como é a relação do deputado com os filhos?
Muito apegado. Eu sempre fui a que cuidei de tudo na casa, e ele é o que brinca, faz guerra de travesseiros, é carinhoso e rola no chão.
Como é que os filhos estão lidando com essa situação?
Estão sofrendo muito, principalmente o menor que acha que o pai não vai voltar mais. O mais velho, de 14 anos, tem dito que agora é o homem da casa, que vai cuidar de tudo, que tem que ser forte por mim e pelos irmãos menores. O psicólogo ficou preocupado e achou isso muito forte para uma criança. O de 13 anos nem quer sair mais de casa.
Eles já sofreram algum tipo de constrangimento na escola, o famoso bullying?
Até agora eles não me relataram nada. Se aconteceu, eles não chegaram a me contar, talvez para me poupar de algum sofrimento.
Como está sendo manter a família financeiramente?
Estamos contando com a ajuda da família e dos poucos amigos que restaram. Estou pensando em vender a casa para nos manter, porque o inquilino saiu, e planejo voltar a trabalhar fora.
Os rendimentos do deputado (permanece com o mandato) não estão chegando?
Assembleia não repassou mais, desde dezembro. Tiraram todos os assessores e o gabinete dele.
Mas durante todo esse tempo vocês não fizeram nenhuma economia?
A política não permite guardar nada. O Moisés ajudava muita gente, muitas igrejas e com o ocorrido ainda tivemos que arcar com algumas custas de advogados e custas processuais.
A senhora não trabalha?
Não, porque fiz a opção de cuidar da casa e dos filhos.
O que mudou na vida de vocês nessa situação?
Muitas dívidas. Eles (os filhos) continuam na escola, mas eu estou devendo. No inglês, por exemplo, eles tiveram que sair e também fiquei devendo.
E os amigos do deputado Moisés, não ajudam?
A maioria sumiu. Eram amigos do poder. Só os verdadeiros ficaram e ajudam.
Vocês visitam o deputado?
Sempre aos domingos, que é quando podemos passar com ele. Almoçamos com ele, mas os filhos saem bem abatidos.
Como é esse momento no Centro de Custódia? O que vocês conversam?
Tentamos passar da melhor maneira possível. Fingimos que nada está acontecendo, procurarmos conversar sobre as coisas da família. Na despedida são só lágrimas dos filhos e do pai.
O que você espera agora?
Eu acredito nas promessas de Deus!