Opinião: sobre quem não entendeu e a necessidade de agredir

A maioria dos leitores entendeu que o objetivo da entrevista com a esposa de Moisés Souza era falar sobre os amigos do poder, mas teve gente que viu outra coisa
Compartilhamentos

JÚLIO MIRAGAIA

Nas redes sociais, os argumentos mais pueris têm a capacidade de se revestir de verdade. Pior, de uma verdade autoritária, indiscutível.

Não vem de agora, a capacidade humana de transformar uma e outra expressão em tábua sagrada. O dogma, o sagrado, a devoção a uma determinada orientação, estão espalhadas pela praia da história, em seus múltiplos grãos.

As redes sociais parecem ter dado voz (um mega-fone talvez) para os “homens-robo”, incapazes de interpretar textos, de argumentar ou emitir uma opinião que não venha carregada com uma dose cavalar de agressão.

Assim tem sido esses anos em “aldeia global”, em que parece que estamos ainda em alfabetização digital, tamanho o grau de imaturidade em lidar com o adverso e a disputa de idéias, ou em lidar com o mais simplório dos fatos.

No domingo, 5, o portal SELESNAFES.COM publicou uma entrevista exclusiva com a esposa de um deputado que se encontra preso, cumprindo pena por envolvimento em um escândalo de corrupção na Assembleia Legislativa do Estado.

A entrevista foi motivo para abalar a capacidade interpretativa de um grupo de leitores. Uns pediam para que a equipe de reportagem do portal visitasse os postos de saúde, as escolas públicas em que falta merenda, coisas do tipo.

Uma rápida passagem de vista pelo mosaico das matérias publicadas no site demonstra por si que essa é uma falsa polêmica. Como se a linha editorial fosse voltada a solidariedade seletiva com uma ou outra pessoa.

A cobertura sobre os episódios da Operação Eclésia, fartamente documentada no portal, são uma demonstração da seriedade do trabalho jornalístico aqui prestado. O acompanhamento dos casos envolvendo as pessoas com o menor poder aquisitivo até o mais importante político e empresário deste estado também demonstram que a agenda aqui está empenhada com o interesse público.

E foi voltado para o interesse público, pela proeminência das pessoas envolvidas, que a entrevista foi feita. Se isso não é jornalismo para os críticos de plantão, precisamos sentar para buscar um novo conceito para nossa atividade.

O jornalismo que defendo é o que aborda aquilo que foge da normalidade. É publicar aquilo que alguém não quer que seja publicado, como dito na frase de William Randolph Hearst. O jornalista e empresário norte-americano é certeiro em complementar esse primeiro pensamento alertando que todo o resto é publicidade.

Foto de capa de Regilene Gurgel, que se queixou da ausência dos "amigos do poder". Teve gente que não entendeu

Foto de capa de Regilene Gurgel, que se queixou da ausência dos “amigos do poder”. Teve gente que não entendeu

Vejo no caso em questão todos os ingredientes da receita para que o fato seja noticiado. Afinal, qual jornalista e sã consciência perderia a oportunidade de entrevistar a esposa de um personagem tão polêmico e controverso? Afinal, a pauta era sobre os amigos do poder, que sempre desaparecem nas horas de agonia. A maioria dos leitores do portal entendeu e fez suas críticas sobre o assunto, ainda bem.

Foram inúmeras as interpretações, inclusive aquela que vê que não precisávamos noticiar tal fato. Qual seria a intenção desses supostos leitores em não querer ver essa entrevista? Como diria a piada viral, utilizada em várias ocasiões, fica o questionamento…

Seles Nafes
Compartilhamentos
Insira suas palavras de pesquisa e pressione Enter.
error: Conteúdo Protegido!!